Nova composição do Conselho de Administração da Petrobras: financeirização e desnacionalização

A Petrobras divulgou na última semana a lista com os nomes dos candidatos indicados pelos acionistas para a disputa por vagas no Conselho de Administração (CA) e no Conselho Fiscal (CF) da companhia. A eleição ocorrerá na Assembléia Geral Ordinária de 26 de abril, próxima quinta-feira.

O acionista controlador indica para a recondução ao cargo na próxima gestão do CA: Luis Nelson Guedes de Carvalho, Pedro Parente, Francisco Petros Papathanasiadis, Jeronimo Antunes e Segen Farid Estefen. Os novos nomes indicados são: José Alberto de Paula Torres Lima, Clarissa de Araújo Lins, Ana Lúcia Poças Zambelli.

A primeira composição do Conselho Administrativo da Petrobras no governo Temer evidenciou a proeminência de interesses do capital financeiro na petrolífera brasileira, com o próprio presidente da Petrobras e outros diretores acumulando cargos no Conselho de Administração da BMF-Bovespa (B3), além da intensa presença de diretores e conselheiros oriundos de grandes bancos e instituições financeiras como Citibank, BTG Pactual e Associação Brasileira de Mercado de Capitais. A nova proposta de composição do CA, por seu turno, sugere agora o enraizamento dos interesses do capital petrolífero internacional no interior da Petrobras.

José Alberto de Paula Torres tem uma larga trajetória profissional na petrolífera anglo-holandesa Shell, tendo sido gerente de finanças e planejamento corporativo (1989-1996), presidente da Shell US Gas & Power (2002-2006), vice-presidente da Shell Upstream Americas (2009-2012) e vice-presidente da Shell Chemicals (2012-2016). Se, por um lado, pesa a favor do novo indicado sua trajetória no setor petrolífero internacional, por outro lado, vale lembrar que a Shell foi partícipe de alguns dos episódios mais ostensivos de conflitos de interesse contraa Petrobras, com destaque para o lobby feito pela anglo-holandesa junto ao então ministro das relações exteriores José Serra para a mudança no marco regulatório da exploração e da produção nas áreas do pré-sal e para a negociação direta feita entre o ministro do comércio exterior do Reino Unido, Greg Hands, e o secretario-executivo do ministério de minas e energia brasileiro, Paulo Pedrosa, para melhorar a participação da Shell nos leilões do pré-sal brasileiro.

Clarissa de Araújo Lins, por seu turno, foi colega de José Alberto de Paula Torres atuando como presidente do comitê externo independente da Shell, e atualmente é diretora executiva do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), uma organização patronal que congrega os altos interesses da indústria petrolífera no Brasil atuando, muitas vezes, como posto avançado de defesa das propostas liberalizantes e desnacionalizantes do atual governo junto ao Ministério de Minas e Energia (MME).

Ana Lúcia Poças Zambelli, indicada como conselheira independente, foi presidente da Schlumberger Brasil (2007-2011), foi presidente da Transocean América do Sul (2012-2015) e vice-presidente da Maersk Drilling (2015 a 2017). As três empresas mantém contratos estratégicos com a Petrobras em áreas de processamento sísmico, prospecção, perfuração, manutenção de poços, fornecimento de porta-contentores e navios.

As mudanças também estão sendo propostas entre os acionistas detentores de ações preferenciais que indicam José Pais Rangel, membro dos Conselhos de Administração da Cemig, da Engie e da Eletrobras, onde tem sido uma das vozes ativas em defesa da privatização da empresa de energia elétrica brasileira. Já os acionistas minoritários indicam o nome de Marcelo Gasparino, presidente do Conselho de Administração da Usiminas, uma das principais fornecedoras de equipamentos e de tanques de armazenamento de óleo bruto para a Petrobras.

A financeirização e desnacionalização conformam assim as duas faces de uma mesma moeda que culmina na privatização do patrimônio público e estatal brasileiro no setor petrolífero.

[Via INEEP]