A política racista de recolonização

O genocídio da população negra, no Brasil, integra um processo de recolonização do país. A advertência, da arquiteta e urbanista Tainá de Paula, vereadora eleita no Rio de Janeiro pelo PT, é um dos destaques da live promovida pelo Sindipetro-NF (e retransmitida pela FUP no programa Encontro com a Categoria) no dia 24/11, para debater a representatividade da mulher negra. A conversa, moderada pelas diretoras do sindicato Conceição de Maria e Jancileide Morgado, também contou com a cientista social e mestranda em Sociologia Política, Carine Passos. A transmissão ao vivo fez parte das atividades do Dia da Consciência Negra.

[Do Boletim Nascente/Sindipetro-NF]

Para Tainá de Paula, que foi a mulher negra mais votada para a Câmara de Vereadores no pleito deste ano (com 24.881 votos), “é preciso entender o que acontece hoje com o país numa perspectiva de classe. O que está em jogo hoje é a recolonização do Brasil. O ultraneoliberalismo brasileiro é um projeto colonizador, ditatorial, autocrático e basicamente racista, na tentativa de se apagar, a partir do genocídio que acontece na base da bala, a hiper militarização dos territórios, a violência deslavada contra negros e negras”.

Ela avalia que o projeto de poder em curso no Brasil promove um “genocídio a partir do simbólico, a partir da diminuição do debate racial, da diminuição do lugar de fala, do epistemicídio [negação do conhecimento científico], do apagamento simbólico, do genocídio que acontece na base da caneta, da política de estado racista e na base da sociedade civil, que também é muito racista”.

Representatividade

Carine Passos, que também se define como militante social (integrante da CIEMH2 Núcleo Cultural e conselheira municipal da Mulher e da Criança e Adolescente em Macaé), explicou que a representatividade negra passa por “colocar o corpo negro como sujeito de possibilidades”, mas, também, reivindicar “representatividade também nos instrumentos de poder”. Essas duas dimensões da luta antirracista, segundo ela, estão associadas.

“Nosso corpo negro, quando ocupa algum espaço, a gente abre uma possibilidade para quem está vindo depois. Não tenho dúvida. Olho para minha trajetória e vejo isso. Quando me entendi ativista em Macaé, entendi que havia um caminho aberto por outras mulheres”, afirma Passos, sobre o primeiro aspecto.

Na segunda dimensão, explica, seria preciso entender que “o corpo negro não é o fim em si mesmo da representatividade. Não é só colocar uma pessoa num determinado lugar que a gente vai dar por fim que a gente conseguiu chegar como a gente queria. É um debate que a gente tem que fazer com cuidado. Porque muitas empresas têm usado esse lugar de representatividade como marketing, quando dizem que têm tantos funcionários negros, mas não têm nenhuma política para diminuir a desigualdade”.

Assista na íntegra

A live continua disponível na íntegra no canal do Youtube do Sindipetro-NF e pode ser assistida em is.gd/representatividadenegra