O fascismo deles de cada dia

75 anos nos separam do final da 2ª guerra mundial, 75 longos anos que infelizmente parecem ter sido esquecidos por boa parte da população mundial. Isso fica claro pelo surgimento no mundo todo de frentes nazifascista em diversos países e continentes. Inclusive e principalmente na velha Europa tão castigada pelas guerras que lá já aconteceram.

Pois bem, mais uma vez infelizmente, este fenômeno nazifascista tem brotado no novo mundo também, Oceania e Américas tem tido cada vez mais casos de movimentos neste sentido. Vários casos de massacres cometidos por seguidores/simpatizantes nazifascistas pipocam pelo mundo todo, porém nos últimos dias um fato teve grande repercussão internacional, o assassinato de um estadunidense negro chamado George Floyd.

O assassinato de George Floyd, cometido pelo Estado na figura de um policial e devidamente filmado (na era das “lives”), fez com que milhares de pessoas saíssem às ruas nos EUA e em outros países. Confrontos inevitáveis com as forças de repressão acentuaram ainda mais ânimos já exaltados de uma população oprimida e dirigida por um simpatizante de supremacistas brancos que é o Presidente Donald Trump. Trump que em 2017 aliviou para supremacistas brancos em um conflito com antifas na cidade de Charlottsville, EUA e tem em seu discurso várias passagens de ódio a imigrantes não brancos.

Em um movimento celebrado pelos Bolsonaristas, Trump culpou a mídia tradicional e prometeu que seu governo designará o grupo Antifa como terrorista. Isso é mais um sinal de alerta para aqueles que desdenham de malucos como ele, Bolsonaro, Orbán, Duterte, etc . Alerta de que a criminalização da oposição será dura e com consequências maiores que cartas de repúdio que tanto tem sido enviadas pelas oposições deste governos de projetos nazifascistas.

Há quem fale que o termo “nazifascismo” está sendo banalizado. Que estes governantes são idiotas e tal. Sabemos que Hitler e Mussolini eram menosprezados tanto pela burguesia, quanto pelos intelectuais de esquerda e direita. Vimos bem no que este desprezo deu.

No Brasil vemos os discursos, citações, simbolismos, encenações e toda verborragia de Bolsonaro e seus ministros com pitadas de pensadores e personagens nazifascistas. É proposital, não é surpresa para quem sempre acompanhou a vida política deste capitão expulso do exército. Surpresa se fosse diferente. Mas lembremos que com todo o histórico deste ser repugnante, ele foi eleito. Com fakenews, milícias, discurso de fora PT, entre tantas outras coisas que nos deixam indignados, ele representa o que boa parte da sociedade pensa. Mais uma vez, assusta, mas é real. Com todas os erros dele, ele ainda tem 30% de apoio popular. Apoio que ainda vai às ruas, menos, mas ainda vai.

Mais uma vez a história nos faz lembrar que Hitler e Mussolini, também tinham um grande apoio popular, afinal o discurso da família, propriedade e orgulho nacional sempre encantaram e sempre encantarão as massas. Uma Alemanha destruída e humilhada na 1ª guerra mundial fez com que o nazismo prosperasse. O desemprego e a economia elegeram Bolsonaro, mas sua linguagem direta e não rebuscada também. Ele ainda encanta parte do empresariado que sempre quer se aproveitar do estado, mas também do “lumpemproletariado”, nome pomposo para o dito informal brasileiro. Sem emprego formal, vivendo de bicos, sem moradia própria, sem consciência de classe e que vê na figura do presidente um “sincerão” que vai “mudar tudo isso aí”.

Enquanto isso parte do movimento sindical organiza suas categorias atrás de migalhas como PLR’s da vida e plano de saúde privado. Quando este movimento sindical resolve ir para as ruas, suas bases não vão com medo de perder o que tem, e os demais informais e não tão bem representados, não enxergam aqueles movimentos de ruas como deles. Mas o “lumpemproletariado” quer e precisa de um movimento “pra chamar de seu”. Aplicativos de entregas, transporte e vendas já estão se preparando para as rupturas de seus “colaboradores” que organicamente têm se organizado.

Cabe agora ao movimento sindical se reinventar (chavão dito em 11 de 10 dirigentes sindicais) verdadeiramente. Lembrando que os tempos são outros, as formas de trabalho são outras, mas que a história se repete e não deve ser ignorada. Aliar as percepções das academias com as percepções das periferias, reler teorias e escrever novas teses, mas o mais importante é não perder nossa capacidade de indignação e disposição para a luta.

por Gerson Castellano, petroleiro e diretor da Federação Única dos Petroleiros, FUP

Publicado originalmente em