Em meio ao caos, gestão da Petrobras acelera privatização

 

Em conferência online com profissionais da imprensa, Roberto Castello Branco, presidente da Petrobrás, deu declarações sobre as atitudes a serem adotadas pela estatal durante a crise sanitária mundial causada pelo novo coronavírus e quais os principais impactos que a empresa pode sofrer.

A coletiva foi realizada na segunda quinzena de abril e um dos principais destaques foi a afirmação de Castello Branco garantindo a não demissão em massa dos trabalhadores durante a pandemia, contrariando diversas denúncias recebidas por alguns sindicatos.

Dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio Moraes contradiz o presidente da estatal. “Apesar de Castello Branco negar, estão sim ocorrendo muitas demissões e reduções nos salários e nos direitos dos trabalhadores durante essa crise”. O petroleiro afirmou também que as medidas anunciadas pela Petrobrás para enfrentamento da pandemia agravam a situação do nosso país.

Ainda durante a reunião, o presidente da companhia fez questão de reforçar que as medidas de privatização da Petrobrás continuam inalteradas. “Nenhum potencial comprador fez contato com a empresa para dizer que perdeu interesse no processo”, completa Castello Branco.

Para William Nozaki, cientista político que é professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (INEEP), as medidas de privatização comentadas por Castello Branco vão totalmente na contramão da economia internacional. “O presidente segue verbalizando terraplanismos petrolíferos. Em um cenário de queda na demanda e nos preços, em um ambiente de pandemia e necessidade de proteção nacional, o comandante da estatal continua insistindo na defesa de leilões, privatizações, empresa enxuta, PPI e livre-concorrência”, alerta.

O pesquisador completa que a insistência do chefe da companhia em continuar com a privatização da empresa durante a pandemia só pode significar três projeções. “Uma injustificada expectativa de que a crise será menor do que indicam as projeções; pretensão em se aproveitar da oportunidade para deixar de fazer ajustes macro no plano da empresa a fim de repassar os custos microeconomicamente aos trabalhadores, ou as duas opções juntas”, aponta Nozaki.

Como exemplo falho, a venda da BR Distribuidora 

No segmento das privatizações, no segundo semestre de 2019 a gestão de Castello Branco optou pela venda da subsidiária da Petrobrás, a BR Distribuidora, o que para Moraes faz muita falta no momento como o que estamos vivendo. “Vemos o mundo inteiro, até mesmo os países mais capitalistas, adotando medidas estatais para frear o impacto dessa crise mundial, enquanto o conjunto Petrobrás vem fazendo justamente o contrário com a venda de ativos contínua”, explica.

O dirigente reforçou ainda que a não atuação de maneira integrada de uma estatal deste porte torna cada vez mais real a possibilidade de que a empresa passe por grandes dificuldades, deixando de lucrar de diversas maneiras. “A não privatização da BR seria fundamental para fornecer combustíveis como gasolina e gás para hospitais e população mais carente, de maneira subsidiada ou até mesmo gratuita, durante a pandemia como a qual estamos vivendo”, conclui Moraes.

[Via Sindipetro Unificado SP | PorAndreza de Oliveira]