Plano da Petrobrás para vender a Fafen-PR míngua. Mas ainda é preciso lutar

 

A Petrobras anunciou nesta terça-feira (26) o encerramento das negociações, sem acordo, para vender 100% de sua participação acionária na Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa/Fafen-PR) e na Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN-III).

Há algum tempo a empresa afirmou que pretende abandonar os negócios de fertilizantes, posição estratégica para o Brasil, e focar na exploração do pré-sal.

Até o final de 2018, o Brasil tinha três unidades de produção de amônia/ureia no país. As Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) da Petrobrás, operavam na Bahia, no Sergipe e no Paraná. E ainda existe uma unidade semiconcluída no Mato Grosso do Sul, que está parada desde que o governo Temer começou a aplicar seu projeto de desinvestimento (levado a cabo com mais voracidade pelo governo Bolsonaro).

O posicionamento da Petrobras de sair dos negócios de fertilizantes e nitrogenados, tendo em vista apenas questões momentâneas do mercado e sem considerar qualquer estratégia de desenvolvimento de médio e longo prazo, fez com que as unidades do nordeste brasileiro (BA e SE) fossem “hibernadas” (cessaram a produção e as mantiveram com controle operacional mínimo).

Com o fracasso das negociações anunciado hoje, a unidade do Paraná, a única que ainda opera no Brasil, corre o risco de também ser hibernada, o que poderia acarretar em centenas de demissões e aumentar a dependência do país em relação ao mercado externo.

“O Brasil que hoje tem apenas uma fábrica de fertilizantes nitrogenados em operação, a Ansa/Fafen-PR, caso resolva seguir o caminho absurdo de hibernação ou fechamento da unidade, ficará 100% dependente de importações de um insumo que tem tecnologia, unidades e mão de obra aptas a produzir”, afirmou Santiago da Silva Santos, diretor do Sindiquímica-PR.

Logo, caso a Ansa/Fafen-PR seja hibernada – ou mesmo encerre as atividades, o que é um risco real –, mais uma vez o Brasil abrirá mão de sua autonomia econômica e estratégica.

Além disso, o país será dependente do mercado externo de Arla 32, reagente químico obrigatório usado para reduzir a poluição ambiental produzida por veículos automotores pesados. A Ansa/Fafen-PR é a maior produtora nacional. Sem ela, o mercado de combustíveis ficaria desabastecido, gerando-se perigo iminente para a população com o aumento da poluição ambiental.

Sabendo dos riscos, petroquímicos estão mobilizados desde ontem (25) exigindo a continuidade das operações.

“Abrir mão de suas unidades, tecnologias e mão de obra para ficarmos dependentes apenas de importações, será um erro estratégico que muito custará para nossa sociedade. Desde nosso feijão que ficará mais escasso e caro, até o agronegócio que ficará mais ainda refém de insumos fundamentais para a sua produtividade”, analisa Santiago.

Em 2018, o Brasil importou 24,96 milhões de toneladas de fertilizante. A Ureia foi o nitrogenado mais importado no ano passado, com 62% do volume total, equivalente a 5,4 milhões de toneladas. O Sulfato de Amônio (SA) ficou em segundo lugar, com 26% do volume, 2,3 milhões de toneladas. Quando ainda tinha em operação as três unidades (Bahia, Sergipe e Paraná), o Brasil importava 76% da ureia consumida no país.

Em vez de ampliar os investimentos para que o Brasil seja autossustentável, o governo Bolsonaro dá um passo atrás e quer colocar o Brasil cada vez mais dependente do mercado externo. “Brasil acima” do que mesmo?

[Via Sindiquímica-PR]