Ford confirma fechamento e trabalhadores decidem continuar a luta

 

Em assembleia realizada nesta terça-feira (12), no pátio da Ford, em São Bernardo do Campo, os metalúrgicos e metalúrgicas receberam a notícia de que a multinacional não ficará mesmo na cidade. A reação foi imediata. A categoria aprovou, por unanimidade, a resistência por seus empregos e direitos.

Um dia após a grande tragédia provocada pela enchente em São Bernardo do Campo, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), Wagner Santana, o Wagnão, que se reuniu no último dia 7 com a direção da Ford mundial nos Estados Unidos, informou que a multinacional deixou bem claro que não vai investir mais na planta em São Bernardo e avisou que já tem três compradores para a empresa.

“Diferentemente da Ford no Brasil, nós não vamos desistir de cada pai e mãe de família que se dedicou a essa empresa e ajudou a empresa a construir tudo aquilo que ela tem Brasil a fora”, afirmou Wagnão.

Os representantes do sindicato exigiram participar das negociações para preservar os empregos de milhares de trabalhadores. Na Ford são quase 3 mil trabalhadores, mas a decisão impactará toda cadeira produtiva, que pode chegar a 30 mil trabalhadores e trabalhadoras na região.

“Não podemos aceitar passivamente o resultado da reunião. Já dizíamos que essa luta é longa e tem que ser feita porque a Ford não quer mais ser patrão de vocês e abriu a possibilidade de permanência do emprego, mesmo com outro dono, então iremos continuar na luta, todos os dias, até a vitória”, reafirmou Wagnão.

Segundo coordenador do Comitê Sindical de Empresa (CSE), José Quixabeira de Anchieta, conhecido como Paraíba, que também participou da reunião nos EUA, junto com Wagnão e o presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID), Rafael Marques, o sindicato fez de tudo para manter a empresa em São Bernardo do Campo e a direção da montadora foi enfática na decisão de fechar.

“Fizemos de tudo para conseguir reverter essa decisão de fechar a planta em São Bernardo. Falamos da mão de obra qualificada e dissemos que os trabalhadores e as trabalhadoras da Ford sabem dos esforços que fizemos para não chegar nesta situação, mas não teve jeito”, contou.

Depois da assembleia os trabalhadores foram dispensados porque a Ford foi uma das empresas prejudicadas pelas fortes chuvas na região e amanheceu alagada, sem chances de produção nenhuma. Nesta quarta-feira (13) os trabalhadores e as trabalhadoras da Ford voltarão à fábrica para receber orientação dos próximos passos da luta.

“Um dia vai entrar para trabalhar, outro dia a gente vai para manifestação na rua, no ministério da Fazenda, no BNDES e até em outros estados. Cada dia será uma história de luta e resistência”, disse João Cayres, Secretário-Geral da CUT São Paulo e também trabalhador da Ford.

Sobre a luta

Segundo João, enquanto os trabalhadores e as trabalhadoras fazem seus papeis em São Bernardo na luta por empregos, a CUT tem o papel de articular, falar com o governo, inclusive o federal, que não se pronunciou até agora, para que façam algo para resolver este problema.

“O presidente Jair Bolsonaro irá se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Washington, próximo dia 19, e seria um bom momento para exigir que Trump resolva este problemão, que atingirá milhares de trabalhadores, direta e indiretamente. Já que a Ford é americana é preciso questionar como é que a gente resolve isso?”, disse o secretário-geral da CUT São Paulo.

“Ir para os Estados Unidos dar palpite sobre a Venezuela e não falar nada do que está acontecendo com a Ford no Brasil será um absurdo e um ato de irresponsabilidade com os brasileiros e brasileiras, já que a decisão não impactará só os trabalhadores e as trabalhadoras, mas toda a economia da região, do Estado e até do Brasil”, complementou João.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo Cayres, o Paulão, a luta precisa ser nacionalizada para ficar mais forte, envolvendo toda a cadeira produtiva da Ford.

“Hoje é com a planta em São Bernardo, mas se não reagirmos a esta decisão eles podem fechar a Ford no Brasil e dar um pé na bunda dos trabalhadores sem direitos e não vamos permitir. Temos que unir forças de todo o país para lutar pelos empregos e acompanhar de perto cada passo desta luta”.

Os trabalhadores e as trabalhadoras metalúrgicas de Minas Gerais estiveram presentes na assembleia em solidariedade a luta na Ford de São Bernardo do Campo.

Paulão disse que a montadora ficará só na Bahia, em Camaçari, devido aos incentivos fiscais oferecidos pelo governo, mas nem lá estão respeitando direitos e continuam explorar a mão de obra dos trabalhadores e das trabalhadoras.

“A Ford em Camaçari está fazendo uma desgraça na vida dos trabalhadores na Bahia. Ou seja, a empresa apresentou uma pauta estilo GM de redução de direito e do piso e até retiraram adicional noturno e lanches de forma mesquinha tiraram. Além disso, demitiram 700 pessoas”, explicou o presidente da CNM.

O coordenador do Comitê Sindical de Empresa (CSE), José Quixabeira de Anchieta, conhecido como Paraíba, disse que não tem lógica esta decisão de ficar só em Camaçari alegando que só lá a empresa tem como sobreviver com os incentivos do governo.

Incentivos fiscais

Rafael Marques disse que, em reunião, a Ford mundial assumiu que a empresa errou com as estratégicas no Brasil e que agora não vai investir mais na planta porque a multinacional passa por uma reestruturação mundial para se adaptar as novas tecnologias e as transformações da indústria.

O presidente da TID Brasil também disse que é preciso e urgente fazer o debate sobre os incentivos absurdos que a Ford teve no Brasil. Segundo Rafael, em 5 anos a Ford recebeu do governo R$ 7,5 bilhões e mais R$ 5 bilhões do BNDES, fora outras políticas do governo, como Inovar-Auto e o rota 2030.

A Deputada Federal, Gleisi Hoffman, esteve presente no ato em solidariedade aos trabalhadores e reforçou a discussão sobre a responsabilidade do governo na negociação.

“Nenhuma empresa como a Ford se estabelece em qualquer lugar do mundo sem o Estado. Com estes milhões de incentivos, o Brasil é acionista e tem o direito de reivindicar a permanência da empresa no Brasil. Se a Ford quer mudar sua forma de industrialização tem que falar com seus acionistas, inclusive com o Estado”, afirmou Gleisi, indignada com o silêncio do presidente Bolsonaro sobre a saída da Ford em São Bernardo.

A deputada também disse que irá atuar fortemente no Congresso, abrindo uma audiência especial sobre o tema e mobilizar toda a bancada de esquerda para se juntar à luta a favor da classe trabalhadora. Segundo ela, o presidente Lula mandou toda solidariedade à luta dos metalúrgicos e metalúrgicas do ABC.

“Quero trazer a solidariedade daquele que foi injustiçado e preso. Se Lula fosse presidente hoje ele estaria aqui e com certeza estaria na jugular do Trump, porque ele sabe da importância dos empregos e da permanência da Ford para o desenvolvimento do país”, finalizou.

[Via CUT]