Protestos marcam três anos do maior crime ambiental do país

 

No dia 05 de novembro de 2015, a Barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pelas empresas Vale e BHP Billiton, se rompeu e derramou 48,3 milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos na natureza. A lama percorreu cerca de 650 km entre Mariana, em Minas Gerais, até a foz do Rio Doce no município de Linhares, Espírito Santo, espalhando-se por várias comunidades ao norte e ao sul da foz.

Atingiu, pela sequência, o córrego Santarém, o rio Gualaxo do Norte, o rio Carmo e todo o Rio Doce em um trajeto que compreende 43 municípios. Destruiu diversas casas, bens, modos de vida, fontes de renda, sonhos e projetos de vida. O rompimento matou 19 pessoas e provocou um aborto forçado pela lama no distrito de Bento Rodrigues. Destes, ainda há um corpo desaparecido de um trabalhador direto da Samarco.

Foi o maior crime ambiental da história do país. No entanto, passados três anos, nenhuma casa foi construída, milhares de vítimas não são reconhecidos e as famílias atingidas pela tragédia denunciam que a Fundação Renova, constituída para restituir a sociedade e o meio ambiente, “empurra” os problemas sem previsão de reparação real na vida dessas famílias.

Marcha por justiça

Para denunciar os três anos sem respostas e fortalecer a luta nas regiões, os atingidos e atingidas pelo crime da Samarco/Vale/BHP, organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, realizam a Marcha “Lama no Rio Doce: 3 Anos de Injustiça”, que teve início neste domingo, com um encontro de mulheres que debate as consequências do crime na vida das mulheres e crianças na Bacia do Rio Doce, em Mariana, em Minas Gerais, de onde os atingidos seguem para iniciar o mesmo trajeto feito pela lama, até Vitória no Espírito Santo.

“As mulheres não são reconhecidas pela Renova; somos 70% que não são atendidas por nenhum dos programas em toda a Bacia. Nós é que temos que lidar com os problemas de saúde, a falta do território que tínhamos antes, a perda de laços comunitários e familiares que o crime trouxe, devemos ser reconhecidas e respeitadas”, reafirma a atingida Márcia, de Colatina.

Nesta segunda-feira, 05, quando a tragédia completa 03 anos, haverá uma série de atividades em Mariana e em outras cidades do Brasil e até mesmo no exterior. Em Mariana, às 17h, haverá concentração na praça Minas Gerais, com lançamento de uma carta de reivindicações. Em Londres, na Inglaterra, uma comitiva de atingidos e parceiros comparecerá a uma das sedes da BHP, uma das acionistas da Samarco.

Durante dez dias da marcha, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realiza ações de denúncia ao longo da Bacia do Rio Doce. Além de Mariana, outras 13 cidades de Minas Gerais e Espírito Santo farão manifestações e atos, como Ipatinga, Naque, Cachoeira Escura, Governador Valadares, Colatina, Resplendor, Itueta e Regência.

Com a mensagem “Do Rio ao Mar: Não vão nos calar!”, a marcha prossegue até o dia 14, com feiras de saúde, atos culturais, caminhadas, celebrações religiosas e assembleias. “Estamos fazendo uma marcha ampla, que vai unir nós atingidos de toda a Bacia do Rio Doce para lutarmos juntos, porque só assim somos ouvidas pela sociedade e atendidas pelas empresas criminosas”, afirma Letícia, do MAB.

[Com informações do MAB | Movimento dos Atingidos por Barragens e do Jornal Brasil de Fato]