Para Guilherme Estrella, a soberania está sob ataque

Em palestra na noite de terça-feira (18), em Belo Horizonte, o geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella fez um panorama do processo de industrialização do Brasil e da trajetória da Petrobrás até a descoberta das reservas de petróleo na camada pré-sal, em 2007.

No início de sua apresentação, o geólogo destacou a importância do Brasil no contexto geopolítico mundial já que o País é o quinto maior em território, possui a maior floresta tropical e perene do planeta (Amazônia), a maior bacia hidrográfica (Amazonas), os maiores aquíferos subterrâneos (um na região amazônica e o aquífero Guarani), além de ser uma potência em minério de ferro (com a mina de Carajás/PA e o Quadrilátero Ferrífero/MG).

No entanto, segundo Estrella, o país tinha um calcanhar de Aquiles. “Tînhamos um problema de energia. O País, ainda durante a industrialização, não tinha carvão, nem petróleo ainda pois não tínhamos tecnologia pra explorá-lo. Então, começamos a desenvolver a energia elétrica por meio das usinas hidrelétricas, que nos deixa refém das chuvas e das condições climáticas. E a descoberta do pré-sal era o que faltava para que o País tivesse autonomia no cenário mundial e soberania”.

Porém, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, a política adotada por Michel Temer à frente da Presidência da República e por Pedro Parente na gestão da Petrobrás tem sido de vender ativos da empresa e entregar a exploração das reservas brasileiras para companhias estrangeiras, inclusive abrindo mão da estatal como operadora única do pré-sal.

“Nenhum País faz o que o Brasil está fazendo. Isso não é capitalismo. Um exemplo é que, nos Estados Unidos, a exportação de petróleo era proibida até o ano passado e, na França, em uma medida aprovada em 2014, restringiu a compra de empresas francesas por companhias estrangeiras. Já o Brasil caminha no sentido oposto, ao se desfazer de elos da cadeia de produção de petróleo de modo a fragilizar a Petrobrás”.

Ele acrescentou ainda que a operação única da estatal era uma política de Estado. No entanto, o atual Congresso aprovou no ano passado, o fim da obrigatoriedade de a Petrobrás ter 30% de participação nos campos de petróleo da região do pré-sal, autorizando a entrada de empresas estrangeiras no País.

Estrella estimou ainda que o tamanho do pré-sal brasileiro varie entre 50 ou 60 bilhões de barris até 150 bilhões, o suficiente para abastecer o País durante todo o século XXI. Ainda assim, o campo de Carcará, no pré-sal da Bacia de Santos, foi colocado a venda e a um preço muito aquém do que vale (o preço estimado de cada barril de petróleo em Carcará é de US$ 5 e o Brasil colocou a venda por US$ 0,35). No entanto, a negociação foi suspensa por uma liminar da Justiça na última semana.

Além do prejuízo à soberania nacional com a venda de ativos, Estrella ainda citou como a entrega da empresa prejudica toda uma cadeia que se desenvolveu em função da Petrobrás e que foi responsável pela geração de empregos, desenvolvimento da indústria nacional e crescimento do País. “Há 30 ou 40 anos, a indústria naval do País estava acabada e foi retomada graças ao investimento da Petrobrás. Também passamos a desenvolver tecnologia brasileira para atender às demandas da exploração de petróleo na camada pré-sal e em águas rasas, além da geração de empregos e riquezas dentro do País. Agora, todo esse esforço está sendo perdido”.

O evento aconteceu no Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais) e foi promovido juntamente com o Sindipetro/MG, a Frebrageo (Federação Brasileira de Geólogos) e o Singeo/MG (Sindicato dos Geólogos de Minas Gerais).

Fonte: Sindipetro-MG