Em semana decisiva, Dilma afirma que o Brasil “não será o país do ódio”

A presidenta Dilma Rousseff elevou o tom nesta terça-feira (12), em encontro com professores e estudantes, no Palácio do Planalto, ao falar sobre o processo de impeachment, que chamou de “farsa”, promovida por “dois chefes do golpe que agem em conjunto de forma premeditada”, em referência ao vice-presidente, Michel Temer, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Este não será o país do ódio”, afirmou.

A presidenta disse ter ficado “chocada com o vazamento deliberado, premeditado de um anúncio de posse antecipada, subestimando a inteligência dos brasileiros e brasileiras”. Na segunda-feira (11), vazou um áudio de Temer discursando para a nação, como se o processo de impeachment já tivesse sido aprovado em plenário – a votação está prevista para o próximo domingo (17).

Foto Roberto Stuckert Filho/PR

“Vamos raciocinar. Antes sequer da votação do inconsistente pedido de impeachment foi distribuído um pronunciamento onde um dos chefes da conspiração assume o papel de presidente (…) De que base legal ele retirou a legalidade de seu gesto?”, questionou Dilma, afirmando que o vazamento deixa explícito o “desapreço que se tem pelo Estado democrático de direito e pela Constituição Federal, ao atropelar os ritos em curso, demonstrando desrespeito, inclusive ao Legislativo”. Em resposta, os presentes gritaram em coro: “Fora, Temer!”

Dilma defendeu-se de acusações sobre possíveis negociações de cargos para recomposição de base para a votação de domingo, acusando os adversários. “Ao longo da semana disseram que eu estaria usando de expedientes escusos. Me julgam pelo espelho, pois eles usam tais métodos. Caluniam enquanto leiloam posições no gabinete do golpe de um governo dos sem votos”, disse.

Sem citar o nome, Dilma fez referência a Cunha, responsável pela condução do processo de impeachment na Câmara. “Se havia alguma dúvida sobre a denúncia do golpe em andamento não há mais. Os golpistas têm chefe e vice-chefe assumidos. Um deles é a mão, não tão invisível, que conduz com desvios de poder e abusos inimagináveis o processo de impeachment, outro esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse.”

A presidenta definiu a defesa de seu mandato como a manutenção de um projeto inclusivo, além de representar a manutenção de “uma jovem democracia, da legalidade, da república e da educação no país”, afirmou. Dilma alinhou as tentativas de golpe contra seu governo com possíveis ataques à educação pública. “O golpe é contra tudo aquilo que nos últimos 13 anos meu governo e o governo Lula têm feito, com o apoio do povo e o trabalho incansável dos movimentos sociais”, disse.

Dilma pediu “calma e paz”. “Não somos violentos. Não perseguimos pessoas. Não divergimos de adversários com gestos de ódio. Acreditamos na consciência das pessoas e que a verdade há de prevalecer”, afirmou. Dilma prosseguiu com um alerta: “Não se deixem enganar por nenhuma manobra mentirosa de última hora. Peço a todos que estejamos atentos e vigilantes nos próximos dias. Possivelmente sofrerei novos ataques desesperados”.

Em relação à educação, a presidenta apresentou dados: “Criamos 18 universidades federais, 173 campi universitário, 422 novas escolas técnicas federais. Contratamos 49 mil professores por concursos públicos. Mais de 4 milhões de jovens entraram em universidades privadas através do Prouni e do Fies, 9 milhões e 500 mil brasileiros cursaram a formação profissional”.

Estudantes e professores

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, afirmou: “Nós somos a UNE que lutamos pelo ‘Fora Collor’, que afastamos um presidente da República. Os estudantes brasileiros, a UNE dos caras-pintadas, diz: para ter impeachment, é preciso ter crime de responsabilidade. Impeachment sem base legal é um golpe à nossa democracia. Nos colocamos contra o impeachment porque acreditamos que, sem democracia, o país não avança”.

Já a estudante de Medicina da Faculdade Santa Marcelina Suzane da Silva, que acessou a universidade pelo Prouni, agradeceu a Dilma o fato de que jovens como ela puderam adentrar no ensino universitário. “A presidenta Dilma não se curvou à ditadura, da mesma forma que nós aqui presentes, além dos 54 milhões de votos que legitimam a sua eleição, não vamos nos curvar ao golpe que está tentando se impor neste atual momento.”

Falando como uma mulher negra da periferia, Suzane destacou que o futuro lhe reservava ser uma excelente babá, faxineira, ou empregada doméstica, mas, graças às lutas pela expansão da universidade pública e pelas políticas afirmativas, como as cotas raciais e as destinadas aos estudantes da escola pública, pôde trilhar outro caminho. Ela lembrou ainda que todas as lutas e manifestações em prol da educação só são possíveis em um Estado democrático de direito.

O coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, afirmou que as cerca de 200 entidades que compõem a campanha “apoiam integralmente a democracia” e também defendem “integralmente” a manutenção do mandato de Dilma. Ele destacou avanços no setor como a inclusão das creches no Fundeb, a lei que determinou o piso nacional do magistério e o sistema de cotas, que, segundo ele, está mudando a cara das universidades públicas do país, além dos recursos dos royalties do petróleo e do pré-sal para a educação. Segundo ele, são esses avanços que estão em jogo no atual momento.

A presidenta da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Maria Lúcia Cavalli Neder, representando reitores das universidades, também firmou “defesa intransigente dos princípios democráticos”, e destacou a expansão do ensino universitário, durantes os governos Lula e Dilma, juntamente com a democratização do acesso, que classificou como “divisor de águas” para o setor.

Fonte: Rede Brasil Atual