BW demite cipista que denunciou a omissão da empresa no acidente que matou 09 trabalhadores

“Eu estou colocando o meu emprego em risco. Sei que posso sofrer retaliações, mas não vou sofrer mais do que os familiares dos meus companheiros que morreram em um acidente que poderia ter sido evitado”.  Em entrevista à FUP, no dia 07 de abril, o técnico mecânico e cipista da BW Offshore, Vitor Marques da Silva, já havia feito o alerta, logo após prestar depoimento à Comissão da ANP que apurou as causas do acidente que matou nove trabalhadores na FPSO Cidade de São Mateus, em fevereiro, no Espírito Santo.

A sentença prenunciada por Vítor se concretizou na última quinta-feira (10), quando recebeu um e-mail da BW comunicando a sua demissão.  Uma clara retaliação às denúncias que fez à ANP e à própria empresa sobre a omissão das gerências diante dos vazamentos recorrentes na Casa de Bombas da plataforma, onde ocorreu a explosão que resultou na morte dos trabalhadores.  Os gestores da Petrobrás, que também foram reiteradamente alertados sobre a negligência da BW e sua responsabilidade no acidente, não só lavaram as mãos, como ainda elogiaram as práticas de segurança da empresa. A conivência da estatal deixou o caminho livre para a BW perseguir trabalhadores que lutam simplesmente para defender a vida dos companheiros.

Entre 2013 e 2014, Vítor trabalhou por 14 meses na FPSO Cidade de São Mateus, onde foi eleito cipista e presenciou pelo menos cinco disparos de alarmes na Casa de Bombas. Ele teve acesso algumas vezes ao local e pôde comprovar os frequentes vazamentos de gás. Suas denúncias e cobranças incomodaram os gestores e ele foi impedido de completar o seu mandato na Cipa, ao ser arbitrariamente transferido para outra plataforma da BW, em julho de 2014.

“Em vez de corrigir os erros, as empresas demitem e punem quem tenta melhorar as condições de trabalho e segurança. Agora mesmo, enquanto falo contigo, outros trabalhadores estão se acidentando nas plataformas e refinarias. Infelizmente, as petrolíferas fazem de tudo para omitir os acidentes e quando acontecem tragédias como a do Espírito Santo, elas apostam no esquecimento”, declarou Vítor à FUP, momentos após ter sido demitido. 

Fonte: FUP