Rádio itinerante da CUT alerta a população sobre riscos causado pelo uso de agrotóxicos

Quem passou pela Praça do Patriarca, centro velho da cidade de São Paulo, entre 11h e 14h de hoje, ficou sabendo que a sociedade contemporânea anda comendo veneno.

Para marcar o Dia Mundial de Luta Contra os Agrotóxicos, 3 de dezembro, a CUT montou na praça mais uma edição de sua rádio itinerante. Aos moldes de um programa radiofônico ao vivo, um âncora e dois comentaristas alertavam sobre os reais e graves perigos à saúde representados pelo uso de agrotóxicos nas lavouras e de sementes transgênicas nos produtos alimentícios industrializados.

A rádio também entrevistou a secretária municipal de Políticas para as Mulheres de São Paulo, Denise Motta Dau, e Jasseir Fernandes, titular da Secretaria Nacional de Meio Ambiente da CUT, organizadora da atividade.

Jasseir destacou que o uso prolongado dessas substâncias, uma prática do agronegócio, tem provocado câncer, depressão, esterilidade, problemas neurológicos e mentais, entre outros. Há estudos médicos e pesquisas científicas que comprovam isso (leia mais aqui).

Terra morta

“Além disso, os fungicidas, inseticidas e herbicidas vão acabando com o solo. No Brasil, só na área rural, há o registro de 300 mil hectares de terra degradadas, onde não nasce nem mais mato”, comenta o dirigente. Jasseir cultiva café em sua propriedade familiar, no Espírito Santo, sem o uso de agrotóxicos.

Denise lembrou que essas substâncias não atingem apenas os trabalhadores e trabalhadoras do campo ou as populações que residem próximas de propriedades que usam agrotóxicos. “A população urbana é diretamente atingida. A gente come esses alimentos, e parte da água que consumimos é contaminada, pois os resíduos dos agrotóxicos correm para os rios”

“T”, sinal de perigo

A rádio chamava a atenção das pessoas, e algumas aproveitavam para tirar dúvidas. “Amido de milho feito com transgênicos é ruim pra saúde?”, perguntou dona Maria Rita, referindo-se à popularmente conhecida “maisena”.

Faz mal, claro. E como reconhecer qual alimento tem conteúdo transgênico? Quem explica é Francisco Gonçalves Cardoso Junior, pai de uma filha de 9 anos. “Eu sempre olho a embalagem. Se tiver o símbolo de transgênico, eu não compro”, afirma ele, que trabalha com comércio exterior. Francisco, por sinal, trouxe para a equipe da rádio três embalagens como exemplo: uma de salgadinho e duas de goma de mascar (sim, também tem chiclete transgênico).

As sementes transgênicas são modificadas em laboratório para que as plantas que vão brotar delas sejam resistentes aos agrotóxicos. Outras já trazem o agrotóxico dentro delas mesmas.

Como escapar dessa?

Os agrotóxicos e as sementes transgênicas são usados porque as monoculturas (grandes plantações de milho, soja etc), comuns no agronegócio, facilitam o surgimento de pragas. Quando a terra tem mistura de plantações, a própria natureza tem seus meios de combater as pragas. Mas a monocultura espanta pássaros, insetos e espécies de plantas que dariam conta da tarefa.

Por outro lado, a agricultura familiar, justamente por preservar a variedade de culturas, dispensa o uso de agrotóxicos. Por isso, é sempre bom conhecer a feira mais próxima onde se vende produtos da agricultura familiar. Detalhe: como 70% dos grãos, legumes e verduras que abastecem os lares dos brasileiros são produzidos por agricultores familiares (segundo o último Censo Agropecuário do IBGE), as chances de a feira do bairro vender produtos saudáveis são grandes.

No supermercado, basta olhar a embalagem dos produtos. “Barrar o uso dos agrotóxicos é uma luta de toda a sociedade, mas também é uma tarefa individual. Aposte no consumo consciente”, diz Jasseir.

3 de dezembro foi escolhido como Dia Mundial de Luta Contra os Agrotóxicos porque em 1984, nessa mesma data, uma acidente na fábrica de pesticidas da Union Carbide, na Índia, matou 16 mil pessoas e contaminou diretamente 560 mil, sem contar filhos e filhas das vítimas.

Para conhecer a campanha permanente contra os agrotóxicos e ter acesso a diversos dados sobre o assunto, clique aqui.

O cineasta Silvio Tendler rodou recentemente um filme sobre o assunto, “O Veneno Está na Mesa 2”