O coordenador da FUP ressalta a importância da unidade nacional para garantir as conquistas da categoria







Nesta conversa com o jornal Petroleir@s (publicação do Sindipetro Unificado do Estado de São Paulo), o coordenador da FUP e diretor do Unificado, João Antônio de Moraes, fala sobre os desafios para o próximo período, reforça a necessidade da unidade da categoria e afirma que a crise no Oriente Médio reforça a necessidade da soberania energética do Brasil.

Entrevista concedida a Norian Segatto

Durante a campanha eleitoral, a questão energética foi enfatizada pela então candidata Dilma Rousseff e a FUP teve presença importante na campanha. Como fica o relacionamento com o governo?

Acredito que não haverá grandes mudanças porque o governo Dilma segue os mesmos pressupostos do governo Lula, de diálogo com o movimento sindical e popular; da parte da FUP e do movimento sindical petroleiro, vamos continuar abertos ao diálogo franco e vamos à luta sempre que for necessário. No entanto, é necessário destacar que há uma diferença de estilos de administrar entre Lula e Dilma, devido, inclusive, à história de vida e trajetória política de cada um, assim, acredito que neste atual governo os canais de negociação tendem a ser mais institucionais, o que reforça a necessidade de nossa categoria se manter unida nacionalmente.

Alguns setores chamam a CUT e a FUP de “chapas branca”.

Isso é conversa de quem não conhece a história ou de quer, propositalmente, desunir a categoria. Negociamos sempre, até a exaustão, porque esse é o sentimento da categoria, mas não abrimos mão das lutas, como a greve nacional que realizamos em 2009, na qual até os sindicatos divisionistas aderiram. Aqui em São Paulo, a Replan teve duas greves importantes, a Recap realizou diversos atos e paralisações durante a campanha salarial. No plano nacional, a CUT é a central que mais promoveu manifestações e greves durante o governo Lula; foi a CUT que liderou as marchas a Brasília, que garantiram uma política permanente de reajuste do salário mínimo. Além disso, nenhum dirigente da FUP deixou a entidade para assumir cargo no governo Lula ou na Petrobrás, sindicalistas foram chamados, sim, mas quem está na direção da FUP permanece na entidade.

Por que é tão importante manter a unidade nacional petroleira?

Existem apenas duas categorias no Brasil que possuem acordos nacionais, os bancários e os petroleiros. Um metalúrgico da Volkswagem de Taubaté, por exemplo, não tem os mesmos direitos que um metalúrgico da Volks de São Bernardo. Se a política levada pelos sindicatos dissidentes tivesse prevalecido, provavelmente hoje teríamos acordos regionais e setoriais, a Transpetro não seguiria o acordo da Petrobrás, seria na base do cada um por si. Este ano teremos eleição em diversos sindicatos e é fundamental manter e aprofundar essa unidade, é ela quem garantiu grandes conquistas da nossa categoria.

Quais conquistas você citaria?

Veja bem, nos governos neoliberais de Collor e Fernando Henrique, uma das categorias que mais resistiu foi a nossa, isso fez com que as perdas fossem menores do que as do restante da sociedade. Para se ter uma ideia, em oito anos de governo FHC, a CUT nunca conseguiu uma audiência com o presidente ou o ministro da Casa Civil. No governo Lula voltamos a negociar e reconquistar diversos direitos que haviam sido cortados; os novos petroleiros tinham, praticamente, apenas as garantias da CLT e, aos poucos, fomos retomando os direitos para todos os petroleiros; mais do que reconquistar o que tínhamos, avançamos em diversos pontos, como o auxílio ensino, a distribuição mais equânime da PLR, o direito aos minutinhos, o ganho real de diversa formas (tabela, níveis e na RMNR) cada petroleiro pode constatar o que falamos consultando a sua declaração de renda em 2002 e a de 2010, agora, sem dúvida, a nossa maior conquista foi o acordo da Petros com a repactuação, que garantiu um aporte de 6 bihões por parte da Petrobrás ao nosso fundo e o consequente equilíbrio do plano Petros que conseguiu, finalmente, sair de uma história de déficits. Para obter essas conquistas, a unidade nacional foi e continua sendo fundamental.

Para este ano quais são os principais desafios?

No âmbito mais geral da luta dos trabalhadores, a correção da tabela do Imposto de Renda está na ordem do dia, porque ela ficou sem alteração durante os oito anos de FHC, provocando grandes perdas para os trabalhadores. No contexto dos petroleiros, uma das nossas propostas é a realização da Conferência Nacional sobre Energia, para debater, juntamente com outros setores da sociedade, empresários e governo, os diversos aspectos da política energética. Mantemos, também, a batalha pelo Projeto de Lei 531/09 [projeto popular construído pela FUP e setores sociais] para a nova lei do petróleo; a atual para o pré-sal é um avanço, mas ainda é insuficiente. Note que hoje temos no Brasil três regimes para o setor de petróleo: o de concessões, que regulam as áreas fora do pré-sal; o de cessão onerosa, para a capitalização da Petrobrás e o de partilha, que vigora na camada do pré-sal, é um cenário bem mais complexo e que irá exigir dos dirigentes sindicais uma compreensão mais ampla, por isso é importante realizarmos esta conferência.

Especificamente na questão energética, como o Brasil se insere na atual crise do Oriente Médio?

Estamos vivenciando um período de importantes mudanças no cenário mundial, que só poderão ser plenamente avaliadas com o distanciamento histórico, isto é, daqui a alguns anos. Neste momento, há um forte impacto sobre o preço do petróleo, isso reforça a importância da campanha que travamos pela soberania energética do Brasil. O país tem uma posição estratégica hoje no mundo, não é hora de sair exportando petróleo bruto para abastecer países consumidores; temos de investir no refino, na Petroquímica até a indústria plástica exportando apenas produtos finais  que têm valor agregado muito maior e poderão gerar muito mais emprego e desenvolvimento, exportar produtos in natura é permanecer no subdesenvolvimento, não podemos queimar nossas reservas, a Petrobrás e o governo devem avaliar a crise no Oriente Médio de maneira estratégica e fazer prevalecer os interesses da soberania nacional.

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