Os desafios do novo período

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Por Gustavo Marsaioli

Desde 1989 não se vê uma disputa presidencial tão acirrada no país. Esse processo levou a sociedade brasileira, não a uma divisão como pregam alguns, mas a uma polarização das posições políticas.

Um dos fatos notáveis foi a composição do Congresso, que teve a bancada sindical reduzida pela metade (de 83 para 46 deputados federais), enquanto o número de parlamentares a serviço dos empresários aumentou. Um detalhe que chama a atenção é que mais da metade da nova Câmara é formada por milionários. Além disso, houve um aumento expressivoda ala conservadora, segundo levantamento do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

Essa composição não é nada motivadora para o trabalhador e faz com que as propostas apoiadas pelos movimentos fiquem mais vulneráveis a interesses de outros setores. Um exemplo claro foi a derrubada do decreto presidencial que ampliava a participação popular em conselhos de gestão das principais políticas públicas.

A atitude de barrar esse projeto é um ataque frontal à proposta de plebiscito para a reforma política. Em seu discurso da vitória, Dilma declarou que a reforma política é prioridade em seu governo. E sinalizou ainda em defesa da luta pela democratização da mídia, lembrando das manobras da Veja durante o processo eleitoral.

É importante destacar que os conselhos populares já são previstos em lei e o decreto apenas regulamentava sua atuação. Com sua rejeição no Congresso, quem mais perde é a população, que passa a ter um instrumento de participação direta atrofiado.

A manutenção do status quo é a primazia dos setores que dominam a política atual e, para eles, impedir mudanças que ampliem a participação popular é essencial.

Como, então, poderíamos emplacar nossas propostas nesse cenário?

É aí que devemos lembrar que o sindicato, mais que um órgão de disputa corporativa, é um movimento social organizado. Somente com a pressão de todos os movimentos sociais nas ruas, nas greves, junto à população e fazendo a disputa da opinião pública é que podemos garantir o avanço.

No nosso seminário anual de direção, Thiago Barison do Sasp (Sindicato dos Advogados de São Paulo) apresentou sua tese de que o movimento sindical dava claros sinais de superação de sua crise, a crise do sindicalismo. Alguns fatos, como o aumento expressivo do número de horas paradas, chegando a valores comparáveis aos do início da década de 80, e a greve dos garis do Rio de Janeiro e dos condutores de São Paulo à revelia dos acordos firmados pelas direções junto às empresas, indicam essa superação, que ainda deixa muitos resquícios a serem tratados, mas aponta uma saída.

No cenário político a crise se caracterizava pela dificuldade dos sindicatos disputarem a política nacional, pois havia sempre uma dificuldade de “bater” no governo eleito, em prol da governabilidade, limitando-se a disputas pontuais. O atual cenário nos mostra que essa postura passa a ser imprescindível de reavaliação, pois os setores conservadores e de direita não pouparão esforços para implementar seu plano. A base precisa se apropriar do debate e, cada vez mais profundamente, se somar ao movimento.

Com o fim do processo eleitoral, inicia-se a real disputa política e os petroleiros, como sempre, vão se posicionar a favor do progresso e dos trabalhadores, apoiando políticas que aprimorem nossa democracia e favoreçam a população. 

 

Gustavo Marsaioli é coordenador da Regional Campinas do Unificado