Um basta à ‘política eficiente’ sem eficiência

Por Juliano Deptula, diretor do Sindipetro Unificado do Estado de São Paulo e coordenador da Regional Mauá

Ao invés de facilitar, as políticas criadas pelos gestores do sistema Petrobrás burocratizam, cada vez mais, os serviços na companhia. A alegação da empresa é que tais medidas são necessárias para garantir mais segurança aos trabalhadores. Daí eu pergunto: desde quando papel trás segurança?

O fato é que a empresa criou padrões de serviço para serem seguidos à risca. Se ocorre alguma falha, incidente ou acidente, independente da causa, a justificativa cai sobre as costas do trabalhador. A empresa alega que o funcionário “não seguiu o procedimento".

O pior de tudo é que muitas vezes o procedimento não é colocado em prática por ordem da própria chefia. Os gestores assediam os trabalhadores para que realizem as tarefas passando por cima de tais procedimentos. Chegam a forçá-los a ignorar erros apresentados nas documentações emitidas, como PT’s, Libra’s e ARO’s, que não preveem determinadas atividades ou riscos.

Quando o trabalhador, em toda sua razão, se nega a executar tal atividade, se balizando nas normas da empresa, corre ainda o risco de ser ofendido verbalmente ou taxado de “vagabundo”. Isso nos leva à seguinte constatação: a burocracia existe, mas as políticas de eficiência não saem do papel e, normalmente, só servem para responsabilizar os trabalhadores pelas falhas da gestão da empresa. 

Ao invés de criar procedimentos, que quase sempre não funcionam, não seria bem mais racional a implantação de uma política de segurança eficaz? Estabelecer treinamentos adequados (e não à distância como acontece em alguns cursos de NR’s), trabalhos de conscientização do funcionário e não o blá blá blá de sempre, intervenções de manutenção nas plantas, como realmente deve ser feito e não simplesmente pará-las, de acordo com o que manda a burocracia do papel.

Infelizmente, a ineficiência dessas políticas de "redução de custo a qualquer custo", que tem como metas diminuir o efetivo e precarizar a qualidade da manutenção e das condições de segurança, tem sido constatada pelos inúmeros incidentes e acidentes que vêm ocorrendo no sistema Petrobrás. O pior é que a maior vítima dessa política absurda é o trabalhador, que, em muitos casos, sofre sequelas, quando não perde a vida.

Enquanto houver burocracia que emperra o serviço, políticas de eficiência ineficientes, irresponsabilidade, inconsequência e insensatez, os acidentes, as falhas continuarão acontecendo. Providências são necessárias, urgentemente. Até quando teremos que conviver com essa insegurança?