Sindicato denuncia vazamento de Benzeno na Parada de Manutenção da U-30/31 na RLAM.

Confira o relato do diretor do Sindipetro Bahia, Deyvid bacelar, sobre vazamento de Benzeno na Rlam
 

Ao voltar ao trabalho no domingo (14/07/2012) pela manhã na RLAM, após ter participado das reuniões da CNPBz e do CONCUT em São Paulo, fui surpreendido com a informação de um grande vazamento de benzeno e sérios problemas na Parada de Manutenção, diga-se de passagem “programada”, da U-30/31.

Sexta (13/07/2012) por volta das 02 h foi identificado afloramento em diversos pontos de querosene contaminada com benzeno no piso, próximo ao limite de bateria e F-3030 (tanque subterrâneo de drenagem da unidade). Na inspeção de segurança realizada pela Segurança Industrial (SI) por volta das 17h, foram encontradas diversas concentrações, sendo a mais alta de 5,50 ppm a 6 metros do local. Após essas avaliações, a SI recomendou a paralisação imediata da drenagem de querosene devido a constatação de vazamento em linha subterrânea da U-30; isolamento do local; evacuação da área; proteção respiratória constante para as pessoas no local, e; avaliações ambientais periódicas da área atingida pelos vapores do produto.

Por volta das 02h da manhã de sábado (14/07/2012), essa linha subterrânea de drenagem dos principais equipamentos da unidade para o F-3030 rompeu, gerando um vazamento ainda maior do produto com contaminação do solo e subsolo. Apesar do aumento do vazamento e, conseqüentemente, da exposição de trabalhadores a esse agente cancerígeno, a gerência da RLAM só autorizou a parada da drenagem de produtos da unidade depois do almoço.

Apesar de ter autorizado a parada momentânea e atraso da drenagem, no turno da tarde permitiram a execução de um serviço de escavação no local para identificar os pontos de vazamento dessa linha. Escavação essa que estava sendo realizada por 4 trabalhadores da TECNOSONDA com o apoio de mais 2 da ISOREL e SC TRANSPORTES, alguns sem qualquer tipo de proteção respiratória e com os outros EPIs inadequados, como botas de couro e roupas de tecido. Ao identificarmos o problema, solicitamos ao encarregado pelo serviço a retirada daquelas pessoas e à Segurança Industrial a avaliação ambiental com monitoramento de benzeno, que para nossa triste surpresa estava em uma concentração de 5,15 ppm. Um verdadeiro crime que estava colocando vida de pessoas em risco e causando danos crônicos a saúde de trabalhadores.

Ficamos indignados em saber que essa mesma linha que se rompeu já tinha solicitação de troca feita pela Inspeção de Equipamentos e projeto desenvolvido pela Engenharia desde 2005 e, mesmo com a parada de manutenção de 2008 e essa de 2012, nada foi executado. A RLAM assim fez a escolha de não gastar milhares de reais para resolver esse gravíssimo problema, preferindo manter mais de mil pessoas expostas a esse agente químico comprovadamente cancerígeno, o benzeno, que já fez várias vítimas na RLAM, sendo que o último se encontra internado em São Paulo, nosso companheiro Enivaldo da U-30/31, e outro falecido após lutar sozinho durante 7 meses contra a leucemia. Dionísio de Miranga.

Mesmo com essa linha de drenagem da Unidade completamente comprometida e todas essas vítimas do benzenismo, a gerência da RLAM decidiu novamente pelo reinício da drenagem dos equipamentos da U-30/31, agora com um grande agravante: drenagem de N-HEXANO com mais de 4% de benzeno na corrente. Para se ter uma idéia, antes dessa operação irresponsável e criminosa, a situação já insalubre com concentrações de 6,7 ppm de benzeno no local da escavação e 5,5 ppm, ao norte dessa área e próximo a rua 4, entre a U-80 e a U-30 (sem ter começado a drenagem).

Às 03:15h, recomeçaram os problemas mais críticos, pois a drenagem do circuito de N-HEXANO foi iniciada e toda unidade foi atingida com o benzeno, agente químico cancerígeno que tem feito vítimas na Petrobrás:

      = Corredor de bombas / 2,9 ppm;

      = Próximo a J3024 / 1,8 ppm;

      = Próximo a E-3009 / 1,9 ppm;

      = Próximo a J3006B / 1,9 ppm;

      = Na área de convivência, próximo aos containeres, bebedouro e etc. / 0,25 ppm (locais ao Leste da unidade e bem longe do local de escavação);

      = No local de isolamento / 5,75 ppm;

      = No entorno da área isolada / entre 4,0 e 4,8 ppm;

Após essa constatação, a SI que briga contra esse sistema perverso e falta de valores de SMS retirou todos os trabalhadores terceirizados da área (infelizmente, sem nenhum tipo de proteção e noções sobre os riscos do benzeno, que deveriam ser oferecidos pelas empresas em que laboram), bem como operadores, que estavam descumprindo as recomendações dos TS da RLAM. Por volta das 5:20h os operadores estavam interrompendo novamente a drenagem, mais uma vez sem proteção alguma.

Infelizmente, além desse evento que perdurou por mais de mais de 48 horas emanando benzeno para atmosfera, encontramos outras irregularidades que persistem em existir na parada de manutenção da U-30/31.

Essa emergência, segundo o Acordo Nacional do Benzeno, deveria ter sido comunicada a CIPA e GTB e todas as pessoas expostas ao vazamento deveriam ter o controle biológico de exposição ao benzeno com acompanhamento clínico e laboratorial da Saúde Ocupacional (SO), mas pelo menos metade dos expostos não teve esse tratamento e a CIPA e GTB mais uma vez foram ignorados.

Por incrível que pareça, também, nessa parada de manutenção, encontramos empresas terceirizadas sem PPEOB e GTB com trabalhadores sem exames específicos de controle biológico de exposição ao benzeno expressos no ASO, ao ponto de alguns empregados dessas empresas e até técnicos de segurança não saberem nem o que é PPEOB ou GTB!

Para completar, na reunião com o GTB do dia 13/07/2012 o SMS informou que somente em atmosferas com concentrações de benzeno acima de 0,25 ppm os trabalhadores deverão utilizar conjunto autônomo ou ar mandado, mesmo com a possibilidade de variação dessas concentrações por conta de drenagens, limpeza química ou steam-out.

Não podemos aceitar que vidas humanas continuem sendo expostas irresponsavelmente a ambientes de trabalho altamente insalubres como esse. Até companheiros que já sofreram com o benzenismo e ainda convivem com as conseqüências dessa exposição, estavam vendendo a sua força de trabalho e também sua vida e saúde para a empresa por negligência da saúde ocupacional da RLAM. Somente após várias críticas e alertas que fizemos, a SO afastou um desses companheiros por 15 dias a fim de afastá-lo desse ambiente que destruiu parte de seu organismo.

Como esse descaso para com a saúde e vidas humanas continuou acintosamente durante a madrugada desse domingo (15/07/2012), fizemos novas denúncias a SRTE, CESAT e CNPBz, bem como pedimos o apoio do SITICCAN para darmos um basta a essa situação, ainda nessa semana!