Unificação 10 anos – Um ato de ousadia para marcar a história dos petroleiros

 

Sindipetro Unificado-SP

Era uma madrugada fria de julho quando centenas de militantes da categoria se dirigiram para as duas refinarias, sete terminais da Transpetro e três prédios de escritório. Carregavam o orgulho de um sonho alcançado e uma esperança de futuro: naquele 22 de julho de 2002 começava a eleição para a escolha da primeira diretoria colegiada do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo, agregando as bases das regiões de Campinas, Mauá e São Paulo. Posteriormente, a representação sindical se espalhou para outros locais como Mato Grosso do Sul e Brasília.

Durante os quatro dias de eleição muitos companheiros viram passar diante de seus olhos seis anos de preparação para aquele momento. Em julho de 1996, o congresso estadual da categoria decidiu abrir o processo de unificação.

Desafios

A partir do ano 2000, uma comissão escolhida para coordenar o processo de unificação, trabalhou à exaustão para conseguir aparar diversas arestas: “eram três bases importantes, com trabalho estabelecido, história de lutas e identidade próprias, não é simples equacionar todos esses fatores, esse era um desafio a ser superado”, relembra o atual coordenador da FUP, João Antonio de Moraes.

No entanto, nem sempre é possível conciliar todos os interesses e durante o desdobramento do processo dois dos cinco sindicatos que haviam no Estado puxaram o freio da unificação.

Em fevereiro de 2000, a diretoria de São José dos Campos oficializou sua saída. Apesar de não ter sido uma completa surpresa, era óbvio que uma baixa após quatro anos de discussões teria efeitos. “No primeiro momento, a tropa ficou um pouco abalada, alguns companheiros chegaram a pensar que a unificação estivesse fazendo água, como se diz, mas não foi nada disso que aconteceu”, afirma Moraes.
De fato foi um baque, pois a coordenação da Comissão estava à cargo de um diretor de São José dos Campos, mas quem permaneceu agiu com serenidade e rapidez.

Quem sabe faz a hora

O jornal Petroleiros-SP, – criado em agosto de 1996 para ser o veículo de informação do processo de unificação – abriu o debate com a categoria; o Congresso Estadual foi antecipado para maio: os petroleiros não tinham tempo a perder e decidiram continuar o caminho da unificação. “Não esperaram acontecer”, como nos versos da antiga canção.
O trabalho exigia das diretorias um esforço a mais, pois o mapeamento da estrutura de cada sindicato deveria ser feito minuciosamente: equipamentos, despesas, receitas, contabilidade, procedimentos administrativos, enfim, tudo.

E, em paralelo, o dia a dia das entidades e as demandas não paravam. “Tínhamos de nos desdobrar, às vezes um companheiro não podia ir a uma atividade porque estava trabalhando na unificação e outro precisava substituí-lo; no contato direto com a categoria aproveitávamos todas as oportunidades para discutir a unificação, tirar dúvidas e anotar sugestões”, relembra o ex-coordenador do Unificado, Itamar Sanches.

Meses após a direção de São José largar o barco, os companheiros do Litoral Paulista também resolveram não aderir à unificação. O sindicato não era filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores) o que se tornava mais um fator de divergência a ser superado.

Primeiros anos

A diretoria do Unificado assumiu em julho de 2002 (apesar de a data oficial de fundação ser 26 de agosto) e logo teve seu primeiro embate, a campanha reivindicatória.

A política do então presidente Fernando Henrique para as empresas públicas – e a Petrobrás não era exceção – era o tratamento a pão e água, com tentativas constantes de corte de direitos. Havia clara intenção de enfraquecer as estatais para facilitar o processo de privatização. Porém, havia um elemento a mais no cenário político, em 2002: a eleição presidencial.

Com a eleição de Lula, os petroleiros puderam manter canais de diálogo mais abertos e transparentes com representantes do governo e da empresa.
Estava inaugurado um novo tempo e novos desafios se colocariam para os petroleiros. Dez anos depois, a Unificação é uma realidade. “Esta experiência inédita na categoria mostra que é necessária vontade política para conciliar três realidades distintas e transformar em um sindicato forte e representativo”, afirma o atual coordenador do Unificado, Danilo Silva.