Mais um capítulo da guerra “terraplanista” da gestão da Replan contra o Sindicato

Por Arthur Bob Ragusa, diretor do Sindipetro SP e da FUP

Não é novidade que a gestão da Petrobrás no governo Bolsonaro desrespeita sistematicamente o direito humano e constitucional de organização sindical.

Todos sabemos da orientação corporativa, comunicada oficialmente à FUP em reunião presencial ainda em 2019, de que todos aqueles e aquelas que ocupam qualquer cargo de chefia devem cancelar sua filiação aos sindicatos. Naquela ocasião, a absurda justificativa dada foi “conflito de interesses”, previsto nos códigos de ética e de conduta da companhia. É a ética do dublê de presidente que governa o país: ou você trabalha, ou tem direitos.

Outra orientação corporativa bastante conhecida é a criação sistemática de dificuldades para o trabalho sindical das direções, especialmente dos dirigentes liberados. Mesmo antes do advento da pandemia, pipocavam em todo o país arbitrariedades para atrapalhar o acesso dos dirigentes liberados aos trabalhadores e trabalhadoras, a realização de assembleias, entre outras.

Mais recentemente, com o enfrentamento ao negacionismo e o avanço da vacinação, a Petrobrás se organizava para o retorno ao trabalho presencial em várias unidades. Com isso, os dirigentes sindicais liberados estavam voltando a adentrar as fábricas para conversar com a categoria.

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Diversos obstáculos foram colocados pelas gerências Brasil afora, como aviso prévio, combinação de quais setores seriam visitados, “chá de cadeira” na entrada das unidades e até mesmo monitoramento à distância por vigilantes da segurança patrimonial. Mas nada igual ao que ocorre na Replan, a refinaria de Paulínia, em São Paulo.

Já se vão 2 anos consecutivos em que a gestão desta unidade promove uma guerra velada contra a direção do Sindipetro Unificado de São Paulo. Os dirigentes liberados simplesmente são impedidos de entrar, cada dia por um motivo diferente. As assembleias e setoriais, que antes ocorriam no estacionamento, agora estão sendo feitas na beira de uma rodovia onde diariamente circulam milhares de caminhões carregando produtos inflamáveis, explosivos, tóxicos, em alta velocidade. Até mesmo proibição de uso do banheiro da guarita de entrada já ocorreu.

A despeito dessas afrontas todas à dignidade da organização sindical, a direção do Sindipetro vem tentando descalonar o conflito e restabelecer o mínimo de diplomacia com a gestão local. Depois de muita conversa, tanto em reuniões nacionais quanto locais, temos um quadro alarmante do descompasso entre os vários gerentes da Petrobrás. Vejamos:

– O gerente nacional de Relações Sindicais diz que é o gestor da Segurança Corporativa que é responsável pelo procedimento de autorização de acesso nas fábricas;
– O gerente de Segurança Corporativa da Replan diz que é o gerente de RH que define se os dirigentes liberados vão entrar ou não e como vão entrar;

Quando o tal “procedimento de acesso” começa a parecer uma velha e boa cabeça de bacalhau, numa reunião local na Replan, o gerente de RH disse o seguinte pra direção:

1. Pra entrar na refinaria, tem que avisar com 48h de antecedência;
2. Só poderá entrar 1 dirigente sindical por dia;
3. Este dirigente só pode ficar 1h dentro da refinaria e ir somente a um único setor;
4. O deslocamento dentro da refinaria não poderá ser feito pelo veículo do sindicato, ou seja, o dirigente ficará à mercê de algum transporte da própria refinaria.

E, como se não bastasse, o gerente de RH diz que isso foi definido pelo EOR da Replan, órgão que define os protocolos de proteção contra o covid!!!

Obviamente que concordamos com passaporte vacinal e averiguação de sintomas na entrada da refinaria. Mas como se justificam tecnicamente as demais exigências?

Quando perguntamos porque havia uma limitação de 1h para a permanência do dirigente sindical, o gerente de RH respondeu “porque vocês precisam de mais que uma hora?”. Só isso já bastaria pra entender do que realmente se trata a questão.

Quando apontamos que seria muito mais seguro circular pela refinaria com a viatura sindical, de uso exclusivo do dirigente, do que usando um carro de uso coletivo geral, não houve resposta.

Apelando para a boa ciência das estatísticas e probabilidades, apontamos que permanecer na unidade por 5 horas em um único dia tem muito menos chance de promover contágio do que ir à refinaria por 5 dias consecutivos e lá permanecer por somente 1 hora. O gerente de RH discordou e, obviamente, não soube refutar.

Depois de tudo isso, nos disse que levaria as nossas críticas e considerações para uma “conversa interna”, para elaborar uma outra proposta. Não dá pra ter muita esperança, mas como ela é a última que morre, vamos ver se a razão e o diálogo vão prevalecer.

Não custa lembrar que, em evento recente sobre segurança corporativa na Refinaria de Paulínia, com a presença de policiais e militares dos comandos da região, uma das ameaças identificadas nos planos de ação da gestão são “atos sindicais”. Falta saber se na refinaria da Terra Plana, somos o “espectro do comunismo”, uma célula terrorista ou uma arma biológica!