A luta e a organização da categoria por políticas de diversidade na Petrobrás

Amanda Rodrigues (esq.) e Yasmin Farias (dir.) são integrantes da Frente Petroleira LGBTQIAPN+ (Foto: Divulgação)

O Sindipetro Unificado conversou com duas integrantes da Frente Petroleira LGBTQIAPN+ sobre a promoção da inclusão e diversidade dentro da empresa. Leia a íntegra da entrevista:

[Por Vítor Peruch | Edição: Guilherme Weimann]

No contexto da luta por inclusão e diversidade nas indústrias petroleiras, a Frente Petroleira LGBTQIAPN+ surge como uma voz ativa e determinada na promoção de um ambiente de trabalho mais digno e respeitoso.

Com o intuito de entender melhor os desafios e conquistas dessa frente, o Sindipetro Unificado conversou com duas integrantes, Yasmin Farias e Amanda de Moraes Rodrigues, que compartilharam sua visão sobre o papel e os desafios enfrentados pelos trabalhadores LGBTQIAPN+ .

Yasmin, primeiramente gostaríamos que você se apresentasse e contasse um pouco da sua trajetória.

Y: Sou Yasmin Farias, pernambucana de Olinda, mulher sapatão desfeminilizada, tenho 32 anos. Tenho 12 anos de vida laboral, sempre na indústria, em chão de fábrica. Trabalho como técnica de operação da Cafor (Casa de Força) na Refinaria Abreu e Lima, também chamada de Refinaria do Nordeste (RNEST), e completo 10 anos em outubro na companhia. Estou desde janeiro deste ano como diretora adjunta de Comunicação do Sindipetro PE/PB e sou a primeira trabalhadora da comunidade LGBTQIAPN+ a compor a diretoria desta entidade local. Também componho o Coletivo LGBTQIAPN+ da CUT de Pernambuco.

Yasmin Farias
Yasmin Farias é pernambucana de Olinda, mulher sapatão desfeminilizada e atual diretora adjunta de Comunicação do Sindipetro PE/PB e primeira trabalhadora da comunidade LGBTQIAPN+ a compor a diretoria da entidade (Foto: Divulgação)

Qual é o papel da Frente Petroleira LGBTQIAPN+ na promoção da inclusão e da diversidade na Petrobrás?

Y: Nossa categoria é numerosa e de relevante força política. Então nada mais oportuno que se engajar nas reivindicações e nos debates, tanto em meios sindicais, nos encontros oportunizados, como dentro da empresa. É fundamental nos afirmarmos neste lugar e na qualidade de parte que compõe essa força de trabalho.

A Frente existe e resiste como grupo cujo propósito é a atuação na construção de ações que reivindiquem e promovam um ambiente de trabalho digno e respeitoso para trabalhadoras e trabalhadores LGBTQIAPN+, através de debates internos, da participação ativa nos debates promovidos nos encontros de seminários e congressos das entidades sindicais que compõem as federações da categoria. Essa participação propicia dialogar com a empresa buscando denunciar e sanar sofrimentos e opressões diversas.

JÁ PASSOU DO TEMPO DE RECONHECER A LEGITIMIDADE DAS PAUTAS LGBTQIAPN+. ISSO VALE PARA SOCIEDADE CIVIL COMO UM TODO, MAS TAMBÉM INTERNAMENTE, NOS MOVIMENTOS SOCIAIS E ENTIDADES SINDICAIS.

Quais são os principais desafios enfrentados pelos trabalhadores LGBTQIAPN+, e como a frente os aborda?

Y: Os desafios não são poucos, desde a captação e encorajamento de colegas a participar da Frente, sobretudo como movimento inicial. Eu mesma sou uma das integrantes mais recentes, estando lotada em Pernambuco, só tive oportunidade de conhecer a iniciativa no ano passado, e venho aprendendo bastante. Importante pontuar que isso é um dado. É muito importante investir energia na disseminação da nossa atuação em todas as bases da empresa, fazendo-nos conhecer e acolher de forma cada vez mais ampla as trabalhadoras e trabalhadores LGBTQIAPN+.

Os movimentos da empresa, sobretudo os mais recentes, não são espontâneos. Importante também destacar. Tais movimentos são vitórias de reivindicações e  pleitos debatidos dentro das bases, promovidos pelas entidades sindicais.

A característica predominante da categoria em si já é um grande desafio: homens cis héteros. Fazer essa parcela majoritária conhecer a causa, sensibilizar-se e aliar-se é também um trabalho de base e por muitas vezes exaustivo. É premente repercutir e apreender as pautas LGBTQIAPN+, apropriar-se sincera e honestamente destas, não como ‘pautas identitárias’ (termo tenebroso, muito nocivo) mas como pautas que compõem igualmente a luta de classes. Afinal, já passou do tempo de reconhecer a legitimidade das pautas LGBTQIAPN+. Isso vale para sociedade civil como um todo, mas também internamente, nos movimentos sociais e entidades sindicais.

Yasmin, qual mensagem você deixaria para as pessoas LGBTQIAPN+ que estão chegando na Petrobrás neste momento?

Y: A mensagem é de encorajamento e incentivo à toda categoria, a se aproximar da Frente e dos sindicatos para buscar apoio e participar. Incentivo os colegas recém chegados a conhecerem as estruturas e dinâmicas existentes, acompanhar como funcionam os encontros, os congressos das federações, as discussões de Acordo Coletivo de Trabalho. E nestes, que se encoraje a ampla participação e o debate, porque é isso que corrobora para o lançamento de cláusulas que amparam as pessoas da comunidade em suas especificidades.

Amanda Rodrigues
Amanda Rodrigues é mulher trans travesti, sindicalizada desde 2017 e integra a Frente Petroleira LGBTQIAPN+: “O sindicalismo é muito importante. Não só nas pautas LGBTQIAPN+, mas em toda sociedade” (Foto: Divulgação)

Amanda, também gostaríamos que você começasse se apresentando e contando um pouco da sua trajetória.

A: Sou Amanda de Moraes Rodrigues, mulher trans travesti. Faço parte de alguns comitês de diversidade que nasceram de forma genuína dentro da Petrobrás, faço parte do coletivo LGBTQIAPN+ dos sindicatos da FUP e estou sempre na luta pelos direitos dessas pessoas. Sou filiada ao sindicato desde 2017, fiz minha transição durante a pandemia e hoje eu luto pela causa da diversidade.

Que tipo de ações a Frente Petroleira LGBTQIAPN+  tem realizado para garantir um ambiente de trabalho seguro e acolhedor para pessoas LGBTQIAPN+ ?

A: A Frente Petroleira LGBTQIAPN+ tem realizado várias conversas dentro da Petrobrás. Existem grupos genuínos de diversidade que cresceram dentro da empresa e a gente, sempre que tem oportunidade e é convidado para falar, traz algumas reflexões para pessoas que ainda não entenderam o que é comum numa sociedade com pessoas diversas, com o respeito à individualidade de cada um. Nosso objetivo é acabar com o preconceito e mostrar que o que eu sou não afeta a vida de ninguém. E, dentro da empresa, tentamos promover esses ambientes, tanto que agora a Petrobrás criou uma gerência de diversidade, equidade e inclusão e a gente tem contribuído muito para esse trabalho. Nós também cobramos, através dos sindicatos, os acordos que colocamos no último ACT, pois felizmente conseguimos aprovar algumas pautas LGBTQIAPN+ e cobramos da empresa que essas pautas saiam do papel e venham para a prática. Então, sempre que tem uma data importante, fazemos reuniões, lives, para que possamos refletir com a força de trabalho da Petrobrás e levar para as pessoas essa reflexão sobre a diversidade, até mesmo através de números, mostrando que a diversidade é lucrativa. Também temos um canal com uma live mensal, com diversas pautas de algumas minorias, sendo uma delas a LGBTQIAPN+, na TV 247.

A PETROBRÁS ACABA SENDO UM ESPELHO PARA O PAÍS. ENTÃO TUDO QUE A GENTE CONQUISTA AQUI, DE CERTA FORMA TAMBÉM AFETA A SOCIEDADE.

Como o sindicalismo pode contribuir para a ampliação da representatividade e pelo combate à discriminação às comunidade LGBTQIAPN+?

A: O sindicalismo é muito importante. Não só nas pautas LGBTQIAPN+, mas em toda sociedade. Através da associação que a gente consegue alguma coisa na empresa ou na sociedade. Então é muito importante que a gente, enquanto comunidade LGBTQIAPN+, esteja dentro do sindicato e o sindicato apoie as nossas causas cobrando da empresa, colocando as pautas LGBTQIAPN+, trazendo o diálogo para dentro da empresa. Para avançarmos como empresa e como sociedade. Pelo seu tamanho, a Petrobrás acaba sendo um espelho para o país. Então tudo que a gente conquista aqui, de certa forma também afeta a sociedade. Acho super importante o apoio do sindicato para que a gente consiga evoluir. Muito do que conseguimos enquanto país foram conquistas sindicais. Então com a pauta LGBTQIAPN+ não é muito diferente. Obviamente temos outros movimentos orgânicos na sociedade que lutam por essa pauta, mas o sindicato é um grande aliado pela sua força.

Qual mensagem você deixaria para as pessoas LGBTQIAPN+ que estão chegando na Petrobrás neste momento?

A: Eu diria que elas se sintam felizes e abraçadas pelo Coletivo LGBTQIAPN+ da empresa. Nós estamos sempre aqui para abraçá-las e acolhê-las dentro da empresa. Hoje a gente é uma empresa muito melhor para a nossa representatividade, mas ainda precisamos evoluir muito enquanto sociedade e que, se elas quiserem se somar conosco, serão muito bem-vindas. Estamos aqui para nos unirmos e nos fortalecermos. Somos uma empresa muito melhor do que ontem, mas temos muito para evoluir e o apoio de cada um é muito importante para que a gente consiga uma empresa muito melhor no futuro.