Ato Público em Macaé marca os dez anos do acidente com a P-36

Em um dos momentos mais emocionantes da manifestação, Marilena Sousa, esposa de Josevaldo Dias Sousa, um dos mortos da P-36, leu uma poesia feita no horário exato em que se completava uma década do acidente…





Sindipetro-NF

Ato público no aeroporto de Macaé abriu nesta terça-feira, 15, o conjunto de atividades dos petroleiros do Norte Fluminense para marcar a passagem dos dez anos da tragédia da P-36. Pela manhã, diretores do Sindipetro-NF e familiares das vítimas da tragédia, entre eles nove viúvas, falaram aos trabalhadores que aguardavam seus voos para a Bacia de Campos.

Em um dos momentos mais emocionantes da manifestação, Marilena Sousa, esposa de Josevaldo Dias Sousa, um dos mortos da P-36, leu uma poesia feita no horário exato em que se completava uma década do acidente. Também falou aos participantes outra viúva da tragédia, Luzineide Maria Santana Lima , esposa de Emanuel Portela Lima.

Diretores do NF falaram sobre a situação de insegurança na Bacia de Campos e lembraram que, somente na região, 74 petroleiros morreram em acidentes de trabalho no setor petróleo. Em todo o país, este número chega a 145.

Também deram seus depoimentos sobre a segurança no trabalho na indústria do petróleo sindicalistas e assessores convidados para participar da Conferência Sindical Internacional Segurança no Trabalho Offshore, que o Sindipetro-NF promove de hoje a quinta-feira.

Como ocorre em todos os atos que lembram as vítimas da indústria do petróleo, os nomes dos petroleiros mortos na P-36 foram lidos durante a manifestação. Após a citação de cada nome, cerca de 100 presentes gritavam “presente!”, como forma de homenagem. Também foi observado um minuto de silêncio.

Além do ato público de hoje e da Conferência Internacional, o Sindipetro-NF marca a passagem dos dez anos da tragédia da P-36 com o indicativo de realização, em todas as áreas operacionais, de levantamento das condições de segurança dos trabalhadores. Este tipo de levantamento tem contribuído para subsidiar denúncias sobre a insegurança nas unidades, chegando a haver casos históricos de interdições de plataformas, como foram os casos de PCH-2, em fevereiro, e de P-27, P-33 e P-35, em 2010.

 
Leia a poesia de Marilena Sousa
 
MARCAS
 
Marilena Sousa*
 
Vocês ouviram esta madrugada?
Vocês não ouviram?!!
Por volta de 00:23 h mais ou menos…
Vocês não ouviram???
Cerca de quase 30 min depois eu ouvi novamente…
Vocês não ouviram??
 
Certamente houve um silêncio empedernido, sim, houve silêncio então
Voces não ouviram?
Sim, me respondam!
Vocês não ouviram??
Seguiu-se após o silêncio fúnebre
O pavor da escuridão
O burburinho de fortes ondas
Aconteceu o desequilíbrio
Vocês não perceberam?
 
Foi-se a segurança
Foi-se a resposta
Foi-se a luz
O mundo adernou
Um gigante manquejou
 
Vocês não souberam?
Respondam!! Voces não souberam??
Não! Absolutamente não!!!
Ninguém sabia ao certo…
Não havia respostas ou sequer uma explicação
Não podia-se falar ao certo
 
Voces não viram?
Respondam! Voces não viram??
Certamente que não…
Ou então viram, mas foram
proibidos de falar
proibidos de sentir
proibidos de tocar
proibidos de socorrer
proibidos de divulgar
 
DE     SA      PA     RE    CI    DOS
 
Foram onze
São eles!!!
Quem sao eles?
Somente nos podemos dizer
Apenas nos podemos chamar
Queríamos nos tentar resgatar
 
Foram eles que escreveram parte desta historia
Foram eles que marcaram nossas vidas
Voces não veem?
Como não?!
Voces não veem???
 
Olhem para nos!
Olhem para os órfãos filhos
Olhem para os irmãos solitários
Olhem para os pais desconsolados
Olhem para os amigos
Olhem para vocês mesmos
 
Busque em vocês as marcas
As marcas da vontade de viver
As marcas do respeito a vida
A firmeza da recusa
O brado do NÃO
 
Vocês não ouviram?
Aconteceu ha dez anos
Mas ainda hoje posso escutar
O estrondo daquela explosão
 
* Viúva de Josevaldo Dias de Sousa e mãe de Philipe e Joana Alice A. de Sousa.