Venda de ativos da Petrobrás é apenas uma doença neoliberal ou é algo mais?

Por Cláudio da Costa Oliveira, economista e petroleiro aposentado da Petrobrás, em artigo publicado no Brasil 247

Venda de ativo, desinvestimento, parceria estratégica, ou seja, nada mais e nada menos do que nossa velha conhecida privatização, são termos na moda em nossa maior empresa: a Petrobras.

As políticas neoliberais que tiveram seu apogeu nos anos 80 com Ronald Reagan e Margaret Tatcher, e serviram de inspiração para a criação do PSDB, hoje com Donald Trump e o BREXIT estão em crise. Os criadores se voltaram contra a criatura. E agora José ? E agora PSDB ?

O tucano Pedro Parente, atual presidente da Petrobras, diz que a venda de ativos da empresa é uma necessidade para o seu equlibrio financeiro.

Ocorre que analisando o balanço 2016 da Petrobras vemos que a empresa encerrou a ano com US$ 21,6 bilhões em caixa. Dos US$ 13,6 bilhões de ativos vendidos em 2016, US$ 11 bilhões ainda estão por receber (US$ 8 bilhões serão recebidos em 2017) . A empresa tem um credito de R$ 20 bilhões (US$ 6 bilhões) com a Eletrobras e ainda não foi calculado o quanto a Petrobras tem a receber da cessão onerosa de 2010.

Não dá para tapar o sol com peneira, com tanto recurso liquido e certo, a justificativa de Parente se transforma numa clara mentira. Os ativos não estão sendo vendidos por problemas financeiros. Os ativos estão sendo vendidos por que eles querem vender. Simples assim.

Seria isto fruto do apego de Parente ao projeto neoliberal, ou os motivos são outros?

É intrigante o fato de que Pedro Parente até bem pouco tempo era presidente da Bunge, maior multinacional do ramo do agronegócio presente no Brasil, e sem nenhum constrangimento. logo que chegou na Petrobras tratou de colocar na lista de venda as fábricas de fertilizantes da companhia.

É intrigante o fato de que Ivan Monteiro, diretor financeiro da Petrobras, antes era executivo do grupo Ultra. Grupo Ultra que tem como um dos principais sócios o Banco Itaú. Grupo Ultra que acaba de comprar a preço de banana a Liquigás. Banco Itaú que faz parte do consórcio que acaba de comprar a NTS a preço de banana nanica. Grupo Ultra que é dono da Ipiranga que está armado até os dentes, para comprar a BR Distribuidora.

Tirem vocês mesmos suas conclusões.

A Petrobras acaba de anunciar com grande alarde, que no 2º trimestre de 2017, será registrado um lucro contábil de R$ 6 bilhões (US$ 2 bilhões) cuja origem é a venda da NTS. A NTS foi vendida por US$ 5 bilhões, portanto podemos concluir que estava registrada contabilmente por um valor equivalente da US$ 3 bilhões.

Mas em 2016 foram vendidos US$ 13 bilhões em ativos, dos quais US$ 5 bilhões se referem à NTS. E os restantes US$ 8 bilhões vendidos? Que lucro geraram? Ninguém fala nada?

Será que mesmo com os “impairments” feitos, estas vendas deram prejuízos que estão sendo camuflados ?

Um mínimo de transparência, e uma obrigação para com os principais acionistas, que somos nós mesmos, seria a Petrobras relacionar todos os ativos vendidos e o resultado contábil apurado em cada um.

Via Brasil 247