Imprensa internacional denuncia o golpe no Brasil | Clipping em 24.04.2016

Leia o que saiu na imprensa internacional sobre o golpe em andamento no Brasil.

El País, Espanha
Matéria sobre o desmoralizado Congresso brasileiro e os problemas com a lei que têm metade de seus componentes. Lembra Maluf, com pedidos de prisão na França e Estados Unidos, e que votou pelo impeachment de Dilma.
http://internacional.elpais.com/internacional/2016/04/23/actualidad/1461428271_674627.html

Página 12, Argentina
Sobre a participação na ONU da presidente Dilma e sua entrevista após participar do evento. O título (uma Republiqueta à la Carmem Miranta) alude à nossa cantora e à república de bananas, imagem que nossa cantora ajudou a progetar nos Estados Unidos. A alusão clara é ao circo do impeachment no Congresso.
http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-297702-2016-04-24.html

Noticia a condenação pela Justiça do Trabalho a uma revista brasileira por dano moral coletivo ao recomendar à patroas que mantivessem dentro de casa suas empregadas para evitar que fossem às urnas votar em Dilma.
http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/subnotas/4-77494-2016-04-24.html

Público, Portugal
Artigo de Jorge Almeida Fernandes.
https://www.publico.pt/mundo/noticia/grandeza-e-miseria-do-pt-1729995?frm=opi

Artigo de Alexandra Lucas Coelho bastante crítico ao “espetáculo de esgoto” que foi a sessão da Câmara
https://www.publico.pt/mundo/noticia/sai-da-toca-brasil-1-1730002?frm=opi

Esquerda.net, Portugal
Artigo de Helena Pinto que afirma que “assistimos, mesmo com um oceano a separar-nos, a um golpe em direto. Sim, foi na América do Sul, mas não foi um golpe tradicional, com tropas na rua, como ocorreram tantos. Foi um golpe em pleno Congresso do Brasil”
http://www.esquerda.net/opiniao/brasil/42401

Jornada, Mexico
Sobre o discurso na ONU de Dilma e sua entrevista porterior
http://www.jornada.unam.mx/ultimas/2016/04/22/rousseff-habla-ante-la-onu-del-201cgrave-momento201d-en-brasil

Periódicos internacionais alertam o mundo sobre a ofensiva contra o Estado democrático de direito no Brasil. 

Publicações como o Der Spiegel (Alemanha), The Economist (Inglaterra), El País (Espanha), Público (Portugal), The Guardian (Inglaterra), Página 12 (Argentina) e até mesmo a rede de televisão Al-Jazeera, entre outras, denunciam a ameaça contra a democracia brasileira. E mais: boa parte desses veículos destaca o protagonismo da mídia brasileira no golpe. 

Um exemplo é a publicação alemã Der Spiegel. Sob o título “A Crise Institucional no Brasil: Um Golpe Frio”, no último sábado (19.03.2016), em seu online, a Spiegel citou textualmente a participação das Organizações Globo em prol do impeachment. 

Diz o texto: “parte da oposição e da Justiça age, juntamente com a maior empresa de telecomunicações TV Globo, para estimular uma verdadeira caça às bruxas que tem como alvo o ex-presidente Lula”. O juiz Sérgio Moro também é mencionado, não na carapuça de herói, mas como um juiz que faz política, o “que não é sua função”. 

“Até o momento, Moro não foi bem-sucedido na elaboração de sua acusação contra Lula”, aponta o texto, lembrando que há meses promotores e policiais federais “realizam uma devassa nas finanças e relações pessoais do ex-presidente”, e que “os indícios são ainda frágeis”. Confira tradução aqui).

“Protestos incitados pela mídia”

Na imprensa britânica, um dia após a BBC comparar a política brasileira à série de televisão House of Cards (17.03.2016), Gleen Greenwald, repórter do The Guardian, denunciou o golpe em andamento. Greenwald ficou conhecido mundialmente ao ter sido escolhido por Edgar Snowden para revelar a espionagem em massa do governo norte-americano.

Em artigo publicado no Intercept, ele denuncia que os protestos a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff são, na verdade, “incitados pela mídia corporativa intensamente concentrada, homogeneizada e poderosa”. Ele propõe também uma forte comparação para dimensionar a ação da mídia no país:

“Considere o papel da Fox News na promoção dos protestos do Tea Party. Agora, imagine o que esses protestos seriam se não fosse apenas a Fox, mas também a ABC, NBC, CBS, a revista Time, o New York Times e o Huffington Post, todos apoiando o movimento do Tea Party”. (Confiram atradução do texto aqui).

“Isso é o que está acontecendo no Brasil: as maiores redes são controladas por um pequeno número de famílias, virtualmente todas veementemente opostas ao PT e cujos veículos de comunicação se uniram para alimentar esses protestos”, concluiu Greenwald. 

No último domingo (20.03.2016), o The Guardian alertava: “uma preocupação óbvia é que esses protestos (contra e pró-governo), se saírem do controle, poderiam degenerar em violência desenfreada e no risco de intervenção pelas Forças Armadas” (leia a íntegra).

“Juízes justiceiros”

O vazamento das conversas telefônicas entre o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff ganharam destaque no britânico The Economist. Um dia após o episódio, o jornal destacava: “Moro pode ter ido longe demais”. 

“Liberar uma gravação de conversa em que uma das partes, não menos que a presidenta, que não está formalmente sob investigação e goza de forte proteção constitucional parece violação da sua privacidade”, aponta o texto. (Leia a íntegra).

No espanhol El País, o abuso de poderes do juiz Sérgio Moro também teve destaque. Bastante crítica, a reportagem de Davis Alandete, “Juízes justiceiros que sonham com Watergate”, chegou a questionar qual Justiça está investigando as acusações contra o ex-presidente Lula: “a que presume a inocência de todos os acusados ou a que atende somente à indignação política das ruas”.

O periódico cita, ainda, o comportamento dos juízes brasileiros, divulgando a postagem no Facebook, do juiz Itagiba Catta Preta Neto, que anulou a nomeação de Lula à Casa Civil na última semana. Antes da vitória democrática da presidenta Dilma em 2014, o juiz recomendava aos seus seguidores na rede social: “ajude a derrubar a Dilma e volte a viajar a Miami e a Orlando. Se ela cai, o dólar também cairá. Fora Dilma”. 

A conclusão de El Pais é taxativa: “Assim morre a independência do Poder Judiciário” (Leia atradução aqui). 

O Página 12, da Argentina, não fica atrás. O periódico vem publicado vários artigos de intelectuais brasileiros e internacionais que alertam sobre o golpe e a quebra da legalidade no país. Entre eles, o do analista internacional Juan Manuel Karg, que apontou o caráter golpista do empresariado aliado à FIESP. 

“A renovada pressão empresarial pela repentina saída de Rousseff esquece um dado não menor: 54 milhões de brasileiros optaram por Dilma há menos de um ano e meio, em outubro de 2014”, afirma o texto, apontando que a saída da presidenta Dilma, o cenário de crescente conflito social poderá ser ainda pior. (Leia a íntegra de “A paciência de Lula”, 20.03.2016).

Flagrante ilegalidade

Já o periódico português Público divulgou em seu portal duas análises contundentes: “A justiça partidária e o limiar do golpe no Brasil” de Sylvia Debossan Moretzosohn (20.03.2016); e “Brasil: guerra civil fria” de Álvaro Vasconcelos (23.03.2016).

Citando a condução coercitiva do ex-presidente Lula no dia 4 de março e a “flagrante ilegalidade do vazamento de conversas telefônicas entre a presidente Dilma Rousseff e Lula”, Sylvia Debossan afirma, sem meias palavras, que o juiz Moro “avançou até ultrapassar todos os limites”.

Detalha, inclusive, a ilegalidade dos vazamentos: “um juiz de primeira instância não poderia grampear as ligações da Presidente a não ser com autorização do Supremo Tribunal Federal”. E mais: “a ligação em questão foi feita já quando esse mesmo juiz havia determinado a suspensão das escutas a Lula. Portanto, obviamente [ele] não poderia divulgá-la”. (Leia a íntegra do artigo)

Álvaro Vasconcelos, por sua vez, destaca que “em Portugal, a maioria da imprensa tem alinhado a sua análise dos fatos pela narrativa desenvolvida pela TV Globo ou de jornais que se afirmam como órgãos políticos, como o Estado de S. Paulo ou a Folha de S. Paulo”.

E complementa: “É fundamental não esquecer que um dos problemas da democracia brasileira é sua imprensa, que não procura ser objetiva e apoiou no passado as conspirações anticonstitucionais contra as forças políticas que se consideram de esquerda – ou seja, contrárias aos interesses da Casa Grande, como se diz no Brasil”. (Leia a íntegra do artigo).

Reportagem da Al-Jazeera

Entre as denúncias, destaca-se uma reportagem divulgado pela Al-Jazeera, a mais importante rede de televisão do mundo árabe. Nesta segunda-feira (21.03), o Listening Post dissecou, a partir de imagens e entrevistas, o papel central da mídia brasileira na condução do golpe.

Frisando que a presidenta Dilma não está sob nenhuma investigação, a reportagem mostra, por exemplo, a suspensão da programação regular na TV brasileira, trazendo imagens da Rede Globo e de outras emissoras, no dia da manifestação contra o Governo Dilma, “incitando as pessoas a irem para as ruas exigir o impeachment da presidenta Dilma Rousseff”.

Traçando o perfil e nível social dos manifestantes contra o governo Dilma, a reportagem salienta que para compreender o que está acontecendo no Brasil, é fundamental entender a imensa desigualdade social do país. “As profundas desigualdades sociais sempre estiveram no centro das políticas nacionais”, afirma a matéria.

A reportagem aponta, também, que “cinco famílias, entre as mais ricas do país, controlam 70% dos principais meios de comunicação”, compondo o “establishment brasileiro, a classe dominante, há décadas”. E dispara: “nem Lula, nem Dilma tentaram diversificar a cena midiática em relação à concessão de propriedade dos canais de transmissão”.

Reputações jogadas no lixo

O programa veiculado nesta semana pela Al-Jazeera também destaca que “qualquer tipo de ideologia que pode ser considerada mais progressista é imediatamente suprimida e criticada” por essas empresas.

A reportagem cita, ainda, o perfil midiático do juiz Sérgio Moro e traz trechos do seu artigo, de 2004, “Considerações sobre a Operação Mani Pulite (mãos limpas)”, uma análise sobre as investigações promovidas na Itália. 

Neste texto, aponta a reportagem, Moro anuncia sua estratégica, defendendo abertamente o trabalho conjunto entre a mídia “simpatizante” e o Judiciário como forma de garantir o êxito nas investigações. 

O resultado, alertam analistas ouvidos pela Al-Jazeera, é a criação de um ambiente onde suspeitos, julgados de antemão pela mídia e pela opinião pública, têm suas reputações jogadas no lixo, antes mesmo que um julgamento de fato aconteça, comprovando ou não as suspeitas levantadas. 

https://www.youtube.com/watch?v=l-RszQqn3yQ

Fonte: Carta Maior