Ato no Rio, com artistas, Lula e movimentos sociais, rechaça golpe

Foto Ricardo Stuckert

Um ato histórico contra a tentativa de golpe no Brasil reuniu na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, diversos artistas, intelectuais, movimentos sociais e milhares de pessoas na noite desta segunda-feira (11).

Petroleiros da FUP e dos sindicatos do Norte Fluminense e de Duque de Caxias estiveram presentes, com faixas em defesa da democracia e da Petrobrás.

Foto EBC

Em seguida todos se dirigiram para os arcos da Lapa, onde cerca de 60 mil pessoas lotaram a praça para dizer não ao impeachment. 

Chico Buarque, Beth Carvalho, Otto, Zé Celso, Gregório Duvivier, Tico Santa Cruz e cerca de outros 300 artistas assinaram o manifesto em defesa da democracia e contra o golpe, que foi apresentado durante o ato (leia a íntegra abaixo).

Foto Ricardo Stuckert

Chico entoou o grito: “não vai ter golpe” e o público respondeu: “vai ter luta”.

A sambista Beth Carvalho propôs “construir uma rede democrática de comunicação em defesa da legalidade tal como fez o inesquecível (Leonel) Brizola em 1961”. Ela defendeu que essa rede seja articulada a partir da EBC, TV Brasil, Rádio Nacional, TVT, TVs educativas, rádios comunitárias “e todos os que quiserem participar e quiserem ajudar a derrotar esse golpe”.

A cantora encerrou as falas na Fundição Progresso, entoando o samba que lançou recentemente nas redes sociais e virou hino contra o impeachment, cujo refrão já diz tudo: “Não vai ter golpe de novo, reage, reage meu povo”. 

Do lado de fora da Fundição, nos arcos da Lapa, o samba foi novamente cantado junto com milhares de pessoas, após o discurso de Lula, que começou sua fala, recordando o golpe militar de 64. “Eu tinha 18 anos de idade quando aconteceu o golpe. As pessoas diziam que os militares iam salvar o país. E muitas pessoas acreditaram. E demorou 23 anos para a gente recuperar o direito à democracia neste país”. 

Foto Mídia Ninja

O ex-presidente lembrou ainda que perdeu três eleições presidenciais e nunca tentou outra alternativa que não respeitasse a democracia. “Perdi em 82 e fiquei quieto. Perdi em 89, roubado pela Globo, e fiquei quieto. Perdi em 94 e 98 e fiquei quieto. Bastou a gente ganhar 2002, 2006, 2010, 2014 para eles mostrarem essa faceta golpista”.

E completou: “Aos 70 anos de idade eu não imaginava que ia ver golpista querer derrubar uma presidenta eleita pelo voto”.

Manifesto dos artistas e intelectuais em defesa da democracia

“O que vivemos hoje no Brasil é uma clara ameaça ao que foi conquistado a duras penas: a democracia. Uma democracia ainda incompleta, é verdade, mas que soube, nos últimos anos, avançar de maneira decidida na luta contra as desigualdades e injustiças, na conquista de mais espaço de liberdade, na eterna tentativa de transformar este nosso país na casa de todos e não na dos poucos privilegiados de sempre.

Nós, trabalhadores das artes e da cultura em seus mais diversos segmentos de expressão, estamos unidos na defesa dessa democracia.

Da mesma forma que as artes e a cultura do nosso país se expressam em sua plena – e rica, e enriquecedora – diversidade, nós também integramos as mais diversas opções ideológicas, políticas, eleitorais.

Mas nos une, acima de tudo, a defesa do bem maior: a democracia. O respeito à vontade da maioria. O respeito à diversidade de opiniões.

Entendemos claramente que o recurso que permite a instauração do impedimento presidencial – isso que em português castiço é chamado de ‘impeachment’ – integra a Constituição Cidadã de 1988.

E é precisamente por isso, pelo respeito à Constituição, escudo maior da democracia, que seu uso indevido e irresponsável se constitui em um golpe branco, um golpe institucional, mas sempre um golpe. Quando não há base alguma para a sua aplicação, o que existe é um golpe de Estado.

Muitos de nós vivemos, aqui e em outros países, o fim da democracia.

Todos nós, de todas as gerações, vivemos a reconquista dessa democracia.

Defendemos e defenderemos, sempre, o direito à crítica, por mais contundente que seja, ao governo – a este e a qualquer outro.

Mas, acima de tudo, defendemos e defenderemos a democracia reconquistada. Uma democracia, vale reiterar, que precisa avançar, e muito. Que não seja apenas o direito de votar, mas de participar, abranger, enfim, uma democracia completa, sem fim. Em que cada um possa reivindicar o direito à terra, ao meio-ambiente, à vida. À dignidade. 
Ela custou muita luta, sacrifício e vidas. Custou esperanças e desesperanças.

Que isso que tentam agora os ressentidos da derrota e os aventureiros do desastre não custe o futuro dos nossos filhos e netos.
Estamos reunidos para defender o presente. Para espantar o passado. Para merecer o futuro. Para construir esse futuro. Para merecer o tempo que nos foi dado para viver”.

Fonte: Com informações da Rede Brasil Atual e Instituto Lula