Em manifestação histórica e sob chuva no Centro de Fortaleza, Lula e o povo cearense disseram “não” ao golpe

Em uma manifestação histórica que mesmo sob chuva lotou neste sábado, 2 de abril, a Praça do Ferreira, espaço das grandes lutas populares em Fortaleza, o povo cearense recebeu o ex-presidente Lula e diz “não” ao impeachment. Mesmo com a chuva, foram cerca de 65 mil pessoas reunidas para, no grande ato da Frente Brasil Popular e de toda a sociedade, defender a democracia, a vontade da maioria expressa nas urnas, as conquistas sociais obtidas nos últimos 14 anos, os direitos individuais e coletivos. Mais de 2 milhões de pessoas acompanharam o ato público via Internet, na transmissão da Frente Brasil Popular e do coletivo Mídia Ninja.

“Não vai ter golpe! Vai ter luta”, “Não vai ter golpe! Vai ter Lula”, conclamou a população cearense. Fechando uma semana em que todos os dias o povo do Estado foi às ruas e a outros espaços de manifestação em defesa da democracia e contra o golpe, o grande ato público deste sábado na Praça do Ferreira atraiu desde cedo uma multidão ao Centro de Fortaleza, apesar da chuva na capital cearense. Foram jovens e idosos, pais e crianças, homens e mulheres, moradores de diversos bairros da Capital e de diferentes municípios do Interior, unidos para defender a liberdade e evitar que a história do Brasil volte a ser manchada por um golpe.

“Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula!” foi um dos vários cantos entoados pelo povo cearense, para receber o operário que se tornou presidente da República em um dos maiores e mais desiguais países do mundo, tornando-se internacionalmente respeitado ao promover conquistas sociais como o combate à fome e à miséria e a inclusão social de 40 milhões de pessoas.

Lula na praça: o povo contra o golpe

“Pra ter impeachment tem que ter base legal, tem que ter crime de responsabilidade. E a companheira Dilma e o seu governo não cometeram nenhum crime de responsabilidade. Por isso defender o impeachment é ser golpista, neste instante neste País”, destacou Lula, sob muitos aplausos, no fim da manhã deste sábado, na Praça do Ferreira.

“A maneira de chegar ao poder é disputar eleições, ganhar eleições. Eu sou a experiência disso. Perdi muitas eleições, e quero que eles aprendam isso”, ressaltou. “Pelo que eu tô vendo, se depender de vocês, eles vão ter que esperar as eleições de 2018 pra disputar o governo deste País”.

“Queria que todos prestassem atenção ao que está em jogo neste instante, que nós já vimos em 1964. Não é tentar derrubar a Dilma com um golpe pra colocar alguma coisa melhor. Olha quem tá pretendendo governar este País. Olha se eles têm alguma preocupação com o social deste País”, apontou o ex-presidente. “Eles não querem governar este País pra aumentar salário mínimo, pra garantir piso dos professores, pra garantir o Bolsa-família e reajuste anual do salário, pra garantir que as pessoas mais pobres tenham direitos, enumerou, citando vários avanços sociais obtidos nos últimos 14 anos”.

Outdoors e Casa Civil

“Eu soube que ontem nessa cidade encheram de outdoor contra o Lula. Eu não fico com ódio não. Aos 70 anos, eu já tô pensando que o homem tá me chamando. O dinheiro que essas pessoas gastaram com outdoor pra falar mal de mim, deveriam ter vergonha na cara e fazer outdoor dizendo o que eu fiz pelo Nordeste brasileiro e o que eu fiz pelo Ceará”, disse o ex-presidente, sobre os ataques sofridos em peças publicitárias pagas por forças conservadoras em Fortaleza.

“Se tudo der certo e a Suprema Corte aprovar, quinta-feira (7/4) eu assumirei a Casa Civil do governo. E vou dizer por que é que eu aceitei, depois de muito tempo. É porque eu tô convencido, acredito nisso como acredito em Deus, que este País tem que mudar, tem que dar a volta por cima, mudar a economia, gerar emprego e renda pra essas pessoas”, frisou.

“Todo dia só se fala em corte neste País. Precisamos falar em crescimento, desenvolvimento e investimento neste País. Volto pra ajudar a companheira Dilma, andar de mãos dadas com ela e com vocês”, acrescentou.

“Temer sabe que é golpe”

Lula abordou também a postura do vice-presidente da República. “(Michel) Temer é um constitucionalista, um professor de Direito. Ele sabe que o que estão fazendo é golpe. E sabe que isso vão cobrar é do filho dele, do neto dele amanhã, porque a coisa mais vergonhosa de chegar ao poder é tentar encurtar o mandato de uma mulher com a seriedade e a qualidade da presidente Dilma Rousseff”, afirmou.

 

“Eu só tenho uma coisa nesta vida de compromisso: é com o povo deste País. Faz dois anos que estou sendo vítima dos maiores ataques ao qual um ser humano foi vítima. Todo santo dia. Eles já criaram um apartamento pra mim que não é meu, e eu quero convidar todos vocês, no dia que for meu. Eles já inventaram uma chácara que não é minha, e quando ela for minha, vocês vão visitar minha chácara”, acrescentou Lula.

“Inventaram até um barco de quatro mil dólares. Parece o Lady Laura. É um verdadeiro iate. Eu nem vou em Angra (dos Reis) com meu iate, pra não competir com Roberto Carlos. Ou seja, já inventaram de tudo”, apontou.

“Nós vamos garantir a governabilidade da Dilma, porque este País não pode voltar atrás. Nós sabemos como era o Ceará, como era Pernambuco, a Paraíba e o Rio Grande do Norte quando eles estavam no governo”.

Cultura contra o golpe

Defendendo a liberdade e as conquistas populares e sabendo do papel da cultura e da arte para a luta política, o ato deste sábado na Praça do Ferreira também contou com apresentações de diversos artistas da cena cearense. Entre eles, o cantor e compositor Chico Pessoa, a banda de hardrock Renegados, Duda Quadros e Brincantes Roda de Coco pela Democracia, GhettoRoots e o DJ Guga de Castro. Todos emprestaram o melhor do seu talento para receber o povo cearense desde cedo na Praça do Ferreira, mostrando que a luta tem festa e a festa tem luta.

O ato contou com participantes de diversos estados do Nordeste, além dos governadores do Ceará, Camilo Santana, e do Piauí, Wellington Dias, integrantes da bancada cearense que votarão contra o impeachment, além de inúmeras lideranças, entidades sociais e sindicais, representações populares dos mais diversos setores.

Fonte: CUT Foto: Midia Ninja