As denúncias de corrupção na Petrobrás e o caso da P-14


Fomos nos últimos dias defrontados com denúncias de corrupção em processos licitatórios dentro da Petrobras, mais precisamente envolvendo contratos de reparos em algumas Plataformas.

A ligação com financiamento de campanhas eleitorais, como alguns veículos de comunicação chegaram a divulgar, precisa ser investigada e devidamente esclarecida. Corrupção é corrupção se a utilização do dinheiro da corrupção corroborar para determinar outros delitos criminais, como crimes eleitorais, tipificados na legislação de nosso país.

O processo de reparos da plataforma P-14 chegou a ganhar destaque em várias reportagens veiculadas na mídia. Recordar é viver…

A P-14 (ou P-XIV) é uma velha conhecida e trás gratificantes recordações ao Sindipetro PR-SC bem como aos trabalhadores que a operavam em alto mar, aos trabalhadores de terra que cuidavam de sua logística, acompanhamento geológico, produção e administração.

Essa plataforma produzia petróleo no campo de Caravelas, plataforma continental do estado do PR (o estado de SC contestava a localização, reivindicando sua jurisdição sob esse campo petrolífero).

Em fins de 2001, final do governo FHC, começaram movimentações dentro de setores da Petrobrás que viriam a mudar a organização do E&P em diversas regiões do país, inclusive na região Sul. Em Itajaím estava sediada a UN-SUL, que tinha sob sua responsabilidade a condução do processo de exploração e produção de petróleo nas Bacias de Santos e de Pelotas (Bacia de Santos: de Cabo Frio – RJ – até Florianópolis – SC – e Bacia de Pelotas: do Sul de SC até o RS), bem como das bacia sedimentares terrestres da região, envolvendo, principalmente, a Bacia sedimentar do Paraná.

Ao final de 2002, apesar de intensa campanha do Sindipetro PR-SC juntamente com a sociedade civil, principalmente catarinense, a UN-SUL estava desfeita, virando apenas um escritório da então recém criada UN-RIO.

A UN-SUL operava na época duas plataformas de produção: a P-XIV no Campo de Caravelas (produção de óleo leve) e a Plataforma de Merluza, no campo de Merluza (produção de Gás Natural no litoral sul de São Paulo).

Também ao final de 2002, a P-XIV estava desativada, sob a alegação de esgotamento do campo de produção. Muitos trabalhadores alegavam na época que era possível que ela continuasse a produção por tempo maior. Hoje, discute-se a retomada do campo de Caravelas. A P-XIV saiu do campo inteira, impecável, segundo alguns de seus trabalhadores, sem problema algum, saiu direto para um estaleiro em Angra dos Reis, onde esperaria, ancorada, para seu próximo destino. Destino que poderia ser a algumas dezenas de quilômetros do campo de Caravelas, mais ao Sul, nos campos de Coral Sul e Estrela do Mar, onde a mesma teria todas as condições de operar.

Estranhamente, estes campos foram sub-contratados a uma plataforma “terceirizada”, a S-11 Atlantic Zephyr, operada por uma empresa chamada Petroserv. Vale dizer que a P-XIV é de propriedade da Petrobrás, através de uma subsidiária a Brasoil, ligada à Braspetro.

A Plataforma P-XIV que chegou impecável em Angra dos Reis foi, na linguagem marítima, “canibalizada”, ou seja, parcialmente desmontada, sendo posteriormente transformada em plataforma de exploração, conforme as últimas informações.

Ainda ao final de 2002, com a UN-SUL reduzida a um escritório, descobrimos outra articulação que estava em construção no apagar das luzes do período FHC: a troca dos campos no sul do país, da Bacia de Santos, por campos no decadente Mar do Norte. Pelo menos esta cartada final conseguimos evitar, ao descobrirmos a manobra a tempo de denunciá-la antecipadamente à então equipe de transição para o governo Lula, no final de 2002.

Quando vemos um escândalo de corrupção na mídia envolvendo a Petrobrás, todos nós petroleiros queremos ver os fatos devidamente esclarecidos. E os petroleiros que trabalharam na P-XIV, que foi retirada da produção de petróleo para os cais da corrupção, querem a plataforma devolvida à produção, impecável como foi entregue em 2002.

Certamente, todos os trabalhadores que viveram as intensas lutas de construção dessa gigantesca empresa, que é a Petrobrás, estão estarrecidos e esperando o esclarecimento total dos fatos, com a penalização devida aos envolvidos em práticas de corrupção dentro de nossa empresa.